Conselho do Cern aprova a adesão do Brasil como membro associado

O Brasil se tornou nesta sexta-feira, 24 de setembro, membro associado do Cern, o mais importante laboratório de física de partículas do mundo. A adesão do país foi aceita, por unanimidade, pelo conselho do Cern. O acordo com a instituição europeia ainda precisa ser ratificado pelo Senado Federal.


O professor José Manoel Seixas, da Coppe/UFRJ, é o coordenador da equipe brasileira que participa da colaboração internacional que desenvolve e opera o Atlas, o maior experimento de detecção de partículas em funcionamento no planeta. O Atlas serve ao LHC (Large Hadron Collider), o colisionador de partículas que ocupa um túnel de 27 km de extensão, na fronteira entre a Suíça e a França. Foi graças ao uso combinado destes equipamentos de altíssima tecnologia que a equipe multidisciplinar e internacional que compõe o Cern conseguiu detectar e provar a existência do bóson de Higgs, considerada a partícula fundamental à existência da vida.

A Coppe também é responsável pelo Neuralringer, um sistema de filtragem online para fazer seleção de elétrons, e por 30 sistemas de engenharia de software que dão apoio à coordenação técnica de três dos quatro grandes experimentos do LHC (Atlas, Alice e LHCb), rastreando os equipamentos que passam por manutenção, inclusive aqueles que estiveram expostos à radioatividade, e acessando as informações dos milhões de componentes do Atlas, otimizando o processo de trabalho e alocando recursos técnicos e humanos de maneira eficaz.

Segundo a Sociedade Brasileira de Física, a adesão do Brasil ao Cern como País Membro Associado abrirá oportunidade para que as indústrias brasileiras compitam em seus processos licitatórios, oo que vai além de simples processos de compra, por envolverem, com frequência, desenvolvimentos tecnológicos e inovação de produtos, atividades feitas de forma colaborativa entre pesquisadores e empresas.

“Historicamente, os países que participam no Cern têm essa ligação de desenvolver suas indústrias com base nos compromissos científicos que assumem. Há uma proposta, a área científica adere a ela, e o país adere com desenvolvimento tecnológico da sua indústria nacional. Fizemos isso no Atlas, com o desenvolvimento de hardware, um somador ativo, 2500 placas, participa de decisão de primeiro nível online. Em 2018, a indústria brasileira colaborou com uma placa complexa com 16 camadas, FPGA, processamento digital com hardware, que é o estado da arte no Cern, um aporte bem sofisticado, em colaboração com o Instituto de Kyoto”, explica Seixas.

De acordo com o professor do Programa de Engenharia Elétrica da Coppe, “a aprovação do Brasil como membro associado possibilita acesso mais estável a recursos, podemos enviar mais cientistas para trabalhar in loco. Abre grandes perspectivas para as empresas brasileiras que poderão participar de editais. É um resultado muito impactante destes 33 anos de colaboração”.

Na avaliação do professor, a parceria desdobra em benefícios locais também. “Ela coloca em nível mais elevado a pesquisa, a formação dos alunos de pós-graduação, trabalhos de divulgação científica, como os que temos feito na Coppe, com alunos de ensino médio e fundamental. A pós-graduação evolui, a graduação também e há ainda a inclusão do ensino médio. A relação entre universidade e indústria evolui, no aspecto da inovação. Cern permite que todos esses ângulos se conectem. A universidade é este amálgama: ensino, pesquisa e extensão. O Brasil pode aproveitar todas estas dimensões e impactar a formação das pessoas em diversos níveis”, afirma José Manoel de Seixas.

Localizado entre França e Suíça, o Cern (Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear) reúne 12 mil pesquisadores de mais de 100 nacionalidades, dos quais 131 são brasileiros, e cuja principal missão é descobrir a origem do universo. O laboratório europeu é responsável pela criação do protocolo www, aceito internacionalmente como padrão para navegação na internet, e pela descoberta do bóson de Higgs, conhecida como “a partícula de Deus”, a qual permite que matéria tenha massa, e que rendeu o Prêmio Nobel de Física aos cientistas Peter Higgs e François Englert em 2013.

A Coppe e o Cern  são parceiros há 33 anos. Saiba mais.

Fonte: Coppe/UFRJ