Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O caminho para um maior desenvolvimento do setor nuclear brasileiro é longo e exige múltiplas frentes de batalha. Um fator apontado como vital para o crescimento desse nicho no país é o fortalecimento da cadeia local de fornecedores do segmento. Hoje, a indústria nuclear brasileira ainda é bem dependente de produtos e serviços importados, o que provoca um aumento nos custos de manutenção e operação e elevação dos riscos operacionais, prejudicando a competitividade do setor. Por isso, a Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) uniu forças com empresas âncoras e entidades ligadas ao segmento de fomento para criar o Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Nuclear no Brasil. A iniciativa visa reduzir os custos de aquisição do setor; simplificar processos de fornecimento; e desenvolver condições favoráveis para a indústria alcançar os 8 GW-10 GW propostos pelo governo no Plano Nacional de Energia (PNE 2050).
O programa foi apresentado nessa semana durante a Nuclear Trade & Technology Exchange (NT2E) pela coordenadora do comitê da ABDAN para o desenvolvimento da cadeia produtiva nuclear, Karla Lepetitgaland. A especialista também é coordenadora de P&D e inovação da Eletronuclear. Alguns dos principais pontos do programa serão facilitar a qualificação do fornecedor brasileiro; e treinar pequenas empresas, ajudando a desenvolver uma rede de fornecedores e promovendo sinergias com outros setores. Alguns dos demais pilares do programa serão a promoção à inovação, o suporte à nacionalização de componentes e a expansão do intercâmbio entre os mercados interno e externo, preparando nossas empresas para exportar produtos.
O programa da ABDAN será dividido em duas fases. A primeira delas acontecerá entre os anos de 2021 e 2022, com foco na realização de estudos sobre o mercado e ações piloto. “Estamos fazendo estudos, levantamentos e diagnósticos para ver como desenvolver esse cluster nuclear. Queremos promover inovação e atrair novos fornecedores de outros setores”, detalhou Karla. A primeira fase do programa já tem dois projetos estabelecidos. Um deles já foi detalhado pelo Petronotícias nesta reportagem – a Arena Tecnológica de Desafios Sebrae e Abdan. Trata-se de um edital com desafios para pequenas empresas que foram propostas por companhias âncoras do setor, como a Eletronuclear, INB e Atech.
O segundo projeto é baseado uma metodologia aplicada pelo Sebrae em outros setores, em parceria com a ABDAN, para identificar assimetrias do mercado e desenvolver a cadeia de fornecedores. “A ideia é começar com um projeto piloto para alavancar a cadeia produtiva nuclear do Brasil, começando pelo fornecimento local no Rio de Janeiro e regiões do entorno, incluindo pequenas empresas. A ABDAN e o Sebrae pretendem fazer mais convergência com outros setores e promover a inovação. Esse projeto piloto vai começar pelo Rio de Janeiro, mas pode ser expandido para outros lugares a depender dos resultados”, detalhou Karla.
Esse projeto será dividido em duas fases e terá duração de 24 meses, entre avaliação, planejamento e execução. As pequenas companhias aceitas na iniciativa terão acesso a palestras, oficinas, cursos, visitas técnicas, encontros de negócios e mais de 1.500 horas de consultorias.
“Inicialmente, já levantamos cerca de R$ 500 mil para esse projeto, Ele abrangerá 200 pequenas empresas da cadeia de suprimentos. Cerca de 80 dessas empresas já fornecem ou pretendem fornecer para o setor, identificadas por companhias âncoras do setor nuclear. Mas ainda temos espaço para mais 120 empresas que poderão ser integradas durante o caminho”, explicou Karla. “Ao final do projeto, esperamos ter resultados perenes, como uma rede de pequenos fornecedores formada, um portal com diversos recursos e treinamentos on-line para fornecedores, e um ambiental virtual para conectá-los com as oportunidades do setor”, acrescentou.
Por fim, a coordenadora do comitê da ABDAN afirmou ainda que alguns dos próximos temas de projetos dentro do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva Nuclear no Brasil devem envolver a “abertura de mercado externo para empresas brasileiras” e “qualificação de fornecedores”.