Reforço termonuclear é um poderoso aliado

Por Carlos Freire

Na mitologia grega, Atlas é o titã designado a sustentar o peso do mundo. Por isso a sua representação é um homem forte segurando o globo terrestre entre os ombros. Sua imagem de empenho e dedicação atravessa os séculos como uma das mais potentes metáforas da imaginação humana. E metáforas são muito eficientes para analisar a sociedade. É disso que falaremos neste texto, porque a atual crise energética no país nos convida a relembrar a imagem do titã grego.

Poucos temas conseguem unir esferas de governo, entidades, empresas e a sociedade civil. O Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 é um deles. O texto — consolidado no começo deste ano — apresenta a perspectiva de investimento em novas centrais termonucleares, que podem se tornar uma fonte segura para o abastecimento. Por que falar disso agora? Porque o reforço termonuclear é um poderoso aliado em momentos de crise na geração hidráulica — drama que voltamos a viver.

É lugar-comum discutir a urgência da oferta de recursos energéticos baseados em fontes renováveis, movimento que reprogramará a infraestrutura do planeta em pouco tempo. Ainda bem. Entretanto o que pode surpreender é o papel estratégico e similar ao de Atlas que a energia nuclear desempenhará nessa longa reestruturação, que se mostra necessária para reduzir riscos gerados pela queda no nível dos principais reservatórios do parque de geração hidrelétrica brasileiro.

A tecnologia nuclear será crucial para os projetos de ampliação dos sistemas elétricos, contribuindo com energia firme para a sustentação do setor. Isso ocorrerá por meio dos projetos termonucleares, incumbidos de energizar o sistema elétrico com baixa emissão de CO2. Essas iniciativas são a representação perfeita do esforço de Atlas, necessário para assegurar a oferta, enquanto a inovação atualiza as demais fontes que compõem nossa matriz energética.

A capacidade instalada atualmente no país para a geração elétrica é de 179 gigawatts- hora, dos quais apenas 2% são de fonte nuclear. Um dos objetivos do PNE 2050 é dobrar a colaboração do setor. Outro aspecto importante: o Brasil é um dos dez países com os maiores recursos de urânio do mundo e o primeiro na América Latina. Dispomos, portanto, de uma fonte do recurso natural para o desenvolvimento de um projeto pacífico, focado na oferta de energia para todos os brasileiros, também acionado por fonte nuclear. Parte significativa dessa trilha — nas minas de Caetité, na Bahia, e no Projeto Santa Quitéria, no Ceará — tem importância estratégica para o Brasil.

O caminho é desafiador, mas os números disponíveis ressaltam a posição de Atlas da indústria de energia nuclear do país. E nos fazem relembrar o valor das mitologias para refletir e superar nossas crises: humanas, sociais e também econômicas.

*Presidente das Indústrias Nucleares do Brasil

Fonte: https://blogs.oglobo.globo.com/opiniao/post/reforco-termonuclear-e-um-poderoso-aliado.html