Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
Uma das principais pautas do setor nuclear atualmente, a escolha de novos sítios nucleares está nas prioridades do Ministério de Minas e Energia, de acordo com o chefe da pasta, Bento Albuquerque. O ministro participou hoje (27) da cerimônia de abertura da conferência internacional Nuclear Trade & Technology Exchange (NT2E), evento online que está sendo organizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN). Albuquerque disse ainda que o ministério tem colocado esforços em conjunto com outras áreas do governo para promover a expansão da fonte nuclear na matriz energética do país. Ele reforçou ainda que o planejamento energético brasileiro considera o aumento da geração termonuclear nas próximas décadas, incluindo tanto a construção de grandes usinas como também o desenvolvimento de reatores de menor porte.
“Nosso planejamento energético de longo prazo, o Plano Nacional de Energia 2050, projeta uma ampliação da geração nuclear entre 8 GW e 10 GW nos próximos 30 anos. Isso implicará na construção das novas usinas nucleares e de pequenos reatores modulares, que são alternativa econômica para o fornecimento de energia elétrica de base, sem emissões de carbono, para áreas isoladas”, afirmou o ministro.
Para alcançar a meta de expandir a geração nuclear no país, o governo precisa avançar na pesquisa de novos locais que possam receber as futuras centrais nucleares. Esse trabalho já foi feito no passado, mas foi paralisado devido ao congelamento do Programa Nuclear Brasileiro no passado recente. Com a retomada do setor e do programa, o governo federal decidiu retomar esses estudos.
“Estamos avançando na retomada dos estudos de localização de novos sítios nucleares. Uma parte [desses estudos] já foi realizada pela Eletronuclear, em parceria com a Coppe/UFRJ. Nossa meta é intensificar esses estudos, para que tenhamos a identificação de sítios preferenciais que permitam ao governo propor ao Congresso Nacional a implantação de novas centrais nucleares, tão importantes para o desenvolvimento e a segurança do sistema elétrico do Brasil”, declarou.
A cerimônia de abertura da NT2E contou com a presença de diversos nomes de relevância do setor nuclear, como o presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, o representante do Brasil na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Carlos Duarte; o diretor-geral de desenvolvimento nuclear da Marinha, almirante Carlos Sampaio Olsen; e o secretário adjunto da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC), Marco Marzo.
Além destes, o diretor-geral da AIEA, o argentino Rafael Grossi, também discursou no evento. Como noticiamos, ele esteve recentemente no Brasil para assinar um acordo de cooperação com a ABDAN. Em sua fala na NT2E, Grossi ressaltou a importância do trabalho em conjunto entre diferentes agentes da indústria para o desenvolvimento do setor: “Para a nuclear atingir seu potencial, precisamos trabalhar juntos e compartilhar conhecimentos. O setor nuclear tem muito a contribuir com uma resposta clara, limpa e eficiente para os desafios para o futuro. Tenho certeza que temos muitas coisas a fazer juntos”, opinou.
Essa foi a mesma linha do discurso do presidente da ABDAN, Celso Cunha. Ele destacou algumas das principais conquistas alcançadas pelo setor nuclear brasileiro nos últimos meses, como o avanço na retomada das obras de Angra 3, a reabertura da mina de urânio de Caetité, na Bahia, e a publicação do PNE 2050. No setor de medicina nuclear, houve a modernização da RDC 64 – ANVISA, uma resolução que regula a produção e distribuição dos radiofármacos, entre outras ações.
“Mas não só de flores vive o setor nuclear. A criação da Autoridade Nacional de Energia Nuclear e a construção do Reator de Multipropósito Brasileiro – RMB são exemplos de temas que enfrentam dificuldades em buscar a sinergia necessária para avançar desde 2008”, pontuou. “Vivemos a incerteza de não ter a matéria prima para produzirmos os radiofármacos necessários ao diagnóstico e ao tratamento do câncer. Não seria o caso de permitirmos que a iniciativa privada pudesse colaborar mais neste tema?”, questionou.
Cunha defendeu ainda que o Brasil estimule um ambiente de negócios para acelerar temas como o mercado da medicina nuclear, da mineração de urânio e a participação da iniciativa privada na geração termonuclear. “Essas são pautas que dependerão fortemente da construção de um ambiente cooperativo”, sustentou.
Especificamente falando da construção de novas usinas nucleares no país, o presidente da ABDAN defendeu que o país precisa trabalhar imediatamente para realizar a definição dos novos sítios; estudar novas tecnologias nucleares, como por exemplo as de reatores modulares; construir uma cadeia de suprimento mínima; e estabelecer um ambiente de segurança regulatório jurídico. “Façamos jus ao que já foi construído, e avancemos como um setor organizado. A final, nada surge do nada”, concluiu.