Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
Em um novo movimento para gerar negócios para pequenas empresas e startups, o Sebrae/RJ lançará na próxima semana um estudo inédito com oportunidades para companhias desse porte dentro do setor nuclear. O trabalho foi desenvolvido em parceria com a Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) e apresentará novas informações para que empresas de menor porte possam fazer parte da cadeia de fornecedores para o mega cluster nuclear do país, localizado entre Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. “Algumas das oportunidades envolvem, por exemplo, manutenções industriais, manutenções prediais e até mesmo projetos de tecnologia. Existe um potencial para que startups ofereçam suas soluções para o setor nuclear, tanto com foco em medicina nuclear como em energia”, explicou o gerente do Sebrae/RJ, Renato Regazzi. O entrevistado também ressalta que essas janelas de novos contratos também poderão ser aproveitadas por empresas dos setores de óleo e gás, naval e aviação. “A conversão é muito simples, até porque o nível de exigência nesses setores já é muito grande. Vamos apresentar essa visão de convergência entre os segmentos”, acrescentou. O lançamento do estudo “Rota Tecnológica das Micro e Pequenas Empresas” acontecerá no dia 29, às 14h, dentro da programação da conferência Nuclear Trade & Technology Exchange (NT2E) – evento internacional que está sendo organizado pela ABDAN e já conta com mais de 1.000 inscritos confirmados.
Gostaria que nos apresentasse uma visão geral do estudo que será apresentado pelo Sebrae durante a NT2E.
O Brasil tem bastante experiência no setor de óleo e gás e também em energias renováveis. No entanto, às vezes, o setor nuclear não é tão considerado, apesar de ser um segmento estratégico do ponto de vista tecnológico. O estudo que iremos apresentar no evento da ABDAN verifica quais são as infraestruturas ligadas ao setor nuclear que são relacionadas às áreas de energia, medicina nuclear e outras utilidades. A tecnologia nuclear pode ser usada, por exemplo, para ensaios não destrutivos, análise de condições de segurança de equipamentos, entre outras aplicações.
Em nosso estudo, identificamos quais são as principais infraestruturas do setor. O cluster do setor nuclear brasileiro dispõe de Angra 1 e Angra 2, INB, Marinha do Brasil, além dos cursos de engenharia nuclear em universidades do Rio de Janeiro. Ou seja, existe uma inteligência muito grande no nosso setor nuclear. Além do mais, os grandes players desse segmento estão no Rio de Janeiro. A partir desse cenário, lançamos um olhar sobre qual seria o papel da pequena empresa nesse segmento e identificamos uma série de oportunidades.
Pode nos antecipar um pouco sobre quais foram as oportunidades identificadas nesse trabalho?
Algumas das oportunidades envolvem, por exemplo, manutenções industriais, manutenções prediais e até mesmo projetos de tecnologia. Existe um potencial para que startups ofereçam suas soluções para o setor nuclear, tanto com foco em medicina nuclear como em energia. Então, o nosso estudo tem o foco de identificar as oportunidades e adensar a cadeia produtiva através das empresas âncoras do setor. O trabalho também indica como podemos adensar essa cadeia produtiva para gerar o desenvolvimento local.
O mais interessante nesse trabalho é que identificamos que existe não só um cluster, mas uma rota tecnológica do setor. Trata-se de um megacluster localizado entre os estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, que possuem universidades, empresas de tecnologias, institutos de pesquisa e grandes empresas âncoras do setor.
No olhar do Sebrae/RJ, como as pequenas empresas deveriam olhar para o setor nuclear e as oportunidades dentro desse segmento?
Em geral, as pequenas empresas possuem uma percepção de que o setor nuclear é algo muito distante. Mas isso não é verdade. Essa visão acaba criando uma barreira, impedindo que as companhias de pequeno porte aproveitem as oportunidades de negócios. De fato, o setor nuclear demanda alguns fornecimentos com normas altamente exigentes. Mas esse setor também precisa do fornecimento de muitos serviços que não são considerados estratégicos, sem relação com a área de segurança nuclear.
O setor nuclear abrange vários segmentos de serviços e produtos que podem ser fornecidos por pequenas empresas tecnológicas, como por exemplo, a inspeção por drones, sensoriamento, Internet das Coisas, entre outros. Já para as companhias mais tradicionais, há serviços elétricos e eletrônicos de baixa tensão, reforma predial e fornecimento de periféricos. É um mundo de oportunidades que abrange desde pequenas empresas tecnológicas a pequenas empresas tradicionais, com requisitos que são bem compatíveis ao tamanho dessas companhias.
As pequenas empresas fornecedoras de outros setores, como o de óleo e gás, também podem aproveitar as novas oportunidades que surgirão dentro da indústria nuclear?
O resumo do estudo que vamos apresentar durante a NT2E revelará visões e oportunidades que vão quebrar paradigmas de mercado. Então, sim, empresas do setor de óleo e gás podem fornecer para o segmento nuclear, assim como há oportunidades também para companhias dos setores naval e de aviação. As empresas desses segmentos podem fornecer produtos e serviços para o setor nuclear. A conversão é muito simples, até porque o nível de exigência em óleo e gás, aviação e naval já é muito grande. Vamos apresentar essa visão de convergência entre os segmentos.
Para concluir, na sua visão, qual será o ganho para o Brasil ao investir mais na tecnologia nuclear?
É importante destacar a relevância estratégica do setor nuclear para o país. Ainda existem alguns preconceitos em relação a fonte, por falta de informação. Mas, como se sabe, a nuclear é considerada uma energia limpa. Além do mais, essa tecnologia salva muitas vidas, porque é usada nos radiofármacos, nos exames de raio X e nos equipamentos médicos. É preciso desmistificar a tecnologia nuclear e ressaltar também que esse setor pode gerar oportunidade de negócios de alta tecnologia. O Brasil pode projetar-se tecnologicamente no cenário internacional e desenvolver uma cadeia produtiva de alto valor. Temos uma base industrial e de serviço no Brasil para outros setores econômicos que pode fornecer para o segmento nuclear, fortalecendo o adensamento da cadeia produtiva e a produção local brasileira.