O setor nuclear do Brasil deu um novo passo em sua relação com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). A entidade assinou um acordo técnico com a Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN). A cerimônia aconteceu na tarde desta segunda-feira (19), no Centro do Rio de Janeiro. Pela nova parceria, as duas instituições vão cooperar em áreas de planejamento de energia, operação de longo prazo de usinas nucleares, desenvolvimentos de pequenos reatores modulares, entre outros pontos. O objetivo é ajudar na difusão da tecnologia nuclear pelo Brasil.
“Dado o forte compromisso do Brasil em elaborar um novo plano de energia até 2050, dou boas-vindas ao aumento dos contatos entre AIEA e a ABDAN na área de energia nuclear. A cooperação com a indústria pode dar uma contribuição importante para o aprimoramento do programa nuclear do Brasil”, declarou o diretor-geral da agência, Rafael Grossi. Ele esteve pessoalmente na sede da ABDAN para assinar a parceria e foi recepcionado pelo presidente da associação, Celso Cunha, e por outros membros da indústria nuclear brasileira, como o presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães.
Esta foi a primeira vez que a AIEA assinou um acordo direto com uma instituição como a ABDAN. O acordo prevê o desenvolvimento de atividades para a ampliação do uso da tecnologia nuclear no Brasil, bem como o apoio técnico em diversos tópicos de interesse. Alguns dos temas de maior interesse são a construção de novos reatores e a tecnologia de pequenos reatores modulares (SMRs, na sigla em inglês).
O Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 aponta para um acréscimo de 8 GW a 10 GW de geração a partir da matriz nuclear nos próximos 30 anos. Especificamente sobre a tecnologia de SMRs, o documento diz que novos projetos baseados nesses modelos serão vistos no país após 2030, caso alcancem maturidade tecnológica e competitividade.
Mais cedo, antes do evento na sede da ABDAN, o diretor-geral da AIEA participou de evento comemorativo pelo 30º aniversário da Agência Brasileiro-Argentina de Contabilidade e Controle de Materiais Nucleares (ABACC). A cerimônia aconteceu no Palácio do Itamaraty, também no Rio de Janeiro. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, participou do evento e se disse otimista com os planos do país em expandir a geração nuclear durante os próximos 30 anos, conforme apontado pelo PNE 2050.
“Isso implicará a construção de novas usinas nucleares e também de pequenos reatores nucleares modulares, que são alternativa econômica para o fornecimento de energia elétrica de base, sem emissões de carbono, para áreas isoladas, particularmente em um País de dimensões continentais como o Brasil”, afirmou o ministro.
A ABACC foi criada em 1991 para atuar como uma agência binacional de salvaguardas, a partir de um acordo entre Brasil e Argentina para o uso exclusivamente pacífico da tecnologia nuclear. As atividades de verificação, como as inspeções, são implementadas pela AIEA na Argentina e no Brasil por meio de um acordo que envolve os dois países, a AIEA e a ABACC.
Como o programa nuclear de Brasil e Argentina tende a evoluir significativamente daqui em diante, Grossi avalia esse crescimento “exige uma ABACC fortalecida e verificação de salvaguardas proporcionais”. A conclusão de Protocolos Adicionais com a AIEA seria um passo nessa direção, disse ele, acrescentando que a AIEA está pronta para trabalhar com os dois países quando eles estiverem prontos para dar esse passo.