Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
Com a indicação do Plano Nacional de Energia (PNE) 2050 de que o Brasil irá construir até 10 GW de novas centrais nucleares nos próximos 30 anos, um novo horizonte de possibilidades se abre para a cadeia nacional de fornecedores. As chances de novos negócios serão amplas e estarão abertas até mesmo para as pequenas empresas. Com o objetivo de trazer as companhias desse porte para mais perto do setor nuclear, o Sebrae-RJ e a Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan) lançarão um edital com oportunidades para startups, micro e pequenas empresas. A Coordenadora de Negócios Internacionais do Sebrae-RJ, Miriam Ferraz, explica que a ideia é promover o fortalecimento da cadeia de fornecedores do setor nuclear através de plataformas nacionais e internacionais de desenvolvimento tecnológico. A chamada pública apresentará desafios tecnológicos propostos por empresas âncoras e será aberta a qualquer companhia, abrangendo diversos setores. “Queremos mostrar que pequenas empresas e startups (de setores como metal-mecânico, petróleo de gás, automação e siderurgia) possuem grande potencial de se tornarem fornecedores de tecnologias, produtos e soluções para o segmento nuclear”, disse Miriam. O lançamento do edital acontecerá no dia 28 de julho, às 16h30, dentro da programação da conferência Nuclear Trade & Technology Exchange (NT2E), que está sendo organizada pela Abdan.
Gostaria de começar nossa entrevista pedindo que nos conte como surgiu a ideia de lançar esse edital.
Essa ideia começou a partir da demanda das empresas dessa indústria, no sentido de desenvolver tecnologias a partir de alguns gaps tecnológicos que existem no setor nuclear. O primeiro passo foi reunir as companhias de grande porte para discutir sobre o desenvolvimento de tecnologia por meio do processo de inovação aberta.
O mundo caminha no sentido da inovação aberta. Isto é, várias empresas e profissionais estão juntando suas expertises para ganhar velocidade e diminuir custos e riscos no processo de desenvolvimento tecnológico. Este é um marco histórico. Pela primeira vez, o setor de energia nuclear brasileiro está em um processo de inovação aberta, visando ao desenvolvimento tecnológico.
Nosso objetivo é promover o desenvolvimento da cadeia de fornecedores do setor nuclear através de plataformas nacionais e internacionais de desenvolvimento tecnológico. Com isso, a ideia é implementar programas de inovação aberta que possam identificar os gaps e os desafios tecnológicos das grandes empresas do setor.
Ao seu ver, por que seria importante envolver as pequenas empresas e startups no desenvolvimento de tecnologias para o setor nuclear?
O setor nuclear tem a necessidade de desenvolver fornecedores e tecnologias aqui no Brasil. Essa indústria tem uma demanda forte pelo desenvolvimento de produtos inovadores que atendam aos seus requisitos específicos. O nosso grande objetivo é fazer arranjos colaborativos para o desenvolvimento de produtos/serviços ou de inovações disruptivas. Percebemos que se tornou imperativo no mercado global o desenvolvimento de tecnologias através da cooperação e colaboração.
Nós demonstramos essa ideia para as empresas âncoras, evidenciando que esse processo acelera o desenvolvimento de tecnologias ao reduzir custos e riscos. Além disso, traz a expertise do mercado para o desenvolvimento de tecnologias, criando também novos modelos de negócios e fontes de receitas.
Ao mesmo tempo, essa é uma chance para os pequenos negócios criarem novas oportunidades. Se por um lado, a inovação aberta mantém a indústria abastecida com tecnologia de ponta, por outro ela abre oportunidades para o pequeno negócio desenvolver produtos e soluções de base tecnológica.
E como foram escolhidos os desafios tecnológicos que serão apresentados nessa chamada pública?
Primeiro, definimos quais os temas seriam críticos para o desenvolvimento de tecnologias. A partir disso, desenvolvemos os desafios tecnológicos, ou seja, os problemas ou limitações que as empresas de grande porte possuem dentro desses grandes temas.
Temos que considerar também que a energia nuclear tem parâmetros e requisitos regulatórios muito particulares e isso precisa ser levado em conta. No momento em que um desafio desses é montado, a tecnologia que pode ser desenvolvida a partir desse processo precisa estar atrelada aos requisitos de segurança do setor.
Com isso, após entrevistas com as empresas âncoras, definimos seus os desafios tecnológicos que seriam alvo da chamada pública de projetos.
Quando e como será o evento de lançamento desse edital?
Vamos lançar o edital no dia 28 de julho, às 16h30, no Painel da Arena Tecnológica, dentro da programação da NT2E. As grandes empresas terão oportunidade de falar sobre cada um dos desafios. O edital não será voltado apenas a startups e pequenas empresas, mas também aos ICTs [Institutos de Ciência e Tecnologia]. Qualquer empresa poderá participar dessa chamada pública, desde que tenha expertise e atenda aos requisitos do edital.
Durante o evento, teremos três grandes âncoras que falarão sobre seus desafios. Depois, vamos convidar dois cases de sucesso de pequenas empresas que fornecem para o setor nuclear. Essas companhias contarão como como foi essa trajetória e os benefícios alcançados após a entrada no setor nuclear. Por último, teremos um painel sobre fomento à inovação. Convidamos entidades do governo a apresentarem seus mecanismos de fomento e incentivo à inovação.
E como está a expectativa do Sebrae-RJ em relação à participação das pequenas empresas nessa chamada?
Em um levantamento preliminar, identificamos cerca de 160 micro empresas que não fazem parte do setor de energia nuclear, mas que possuem grande potencial de fornecimento de tecnologias para o segmento. Possivelmente, quando publicarmos o edital no mercado, vamos identificar muito mais do que essas 160 empresas.
Ou seja, é uma oportunidade para pequenas empresas de diversos setores da cadeia produtiva?
O setor de energia nuclear oferece uma grande oportunidade de fornecimento de tecnologias, bens e serviços. Normalmente, a pequena empresa não olha para o setor nuclear. Nosso objetivo com a Arena Tecnológica é tornar público os desafios propostos pelas companhias âncoras. Além disso, queremos mostrar que pequenas empresas e startups (de setores como metal-mecânico, petróleo de gás, automação e siderurgia) possuem grande potencial de se tornarem fornecedores de tecnologias, produtos e soluções para o segmento nuclear. Por isso, o Sebrae-RJ vem apoiando fortemente essa iniciativa e também está pensando em iniciativas de escala global.