O setor de medicina nuclear no Brasil tem, segundo os próprios especialistas da área, um potencial enorme de crescimento para os próximos anos. É com esse horizonte em mente que empresas multinacionais gigantes ligadas a esse setor, como a farmacêutica Bayer e a companhia de tecnologia médica Siemens Healthineers, estão apostando no país. Contudo, essas empresas ainda esbarram em dificuldades inerentes à legislação e infraestrutura do Brasil, o que acaba afetando e brecando seus planos de crescimento no mercado nacional. Este foi o norte do debate durante um webinar promovido nesta semana pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan).
Uma das palestrantes do evento, a gerente de negócio de oncologia da Bayer, Léia Souza, contou um pouco dos desafios de implantação e aprovação no Brasil e do sucesso do radiofármaco Xofigo, usado para o tratamento de pacientes com câncer de próstata. A executiva comentou que, mundialmente, a companhia está realizando estudos de combinação entre o Xofigo e outros radiofármacos, além de avaliar novas moléculas para outras indicações.
Especificamente para o Brasil, Léia disse que a empresa está conduzindo o chamado estudo PEACE 3, que avalia a combinação e os efeitos do Xofigo com a enzalutamida em pacientes com câncer de próstata. “Não temos outros estudos mapeados para o país, mas sempre tentamos colocar o Brasil nesse cenário. Não é uma estratégia fácil trazer pesquisa clínica para o país em um cenário normal, especialmente envolvendo medicina nuclear”, explicou.
Enquanto isso, as indústrias que produzem tecnologias necessárias para o tratamento e diagnóstico nos serviços de medicina nuclear também tentam avançar no Brasil, a despeito das dificuldades apresentadas no aspecto regulatório. O executivo da Siemens Healthineers, Fábio Keller – chefe da empresa na América Latina para a modalidade Molecular Imaging – comparou a postura do nosso país com a de outros países, como o Chile, para mostrar como o Brasil ainda pode evoluir nesse segmento.
“Temos países na América Latina que voam na nossa frente. No Chile, por exemplo, eles têm uma mentalidade de não fabricar tecnologia, mas correm atrás e compram aquilo que existe de melhor. O primeiro país da América Latina que instalou o nosso novo PET-CT, o Vision, foi o Chile. E, hoje, já possuem três deles instalados. Lá, não existe essa burocracia de registros, demoras e etc.”, disse.
Keller ressaltou que, evidentemente, tudo que envolve medicina nuclear no Brasil deve ser feito de acordo com a legislação e regulamentação, contudo, ele enxerga espaço para melhoras nesse quadro. “Isso faria o Brasil crescer. Nada contra os países da América Latina, mas estamos muito atrás em relação aos fármacos e aos equipamentos”, pontuou. “O Brasil é a maior potência na América Latina, tem tudo para desenvolver e ser o número 1 em todos os aspectos”, concluiu.
Este foi o nono webinar realizado pela Abdan em parceria com o Sebrae-RJ dentro de uma série de encontros virtuais em preparação para a Nuclear Trade and Technology Exchange (NT2E) – evento previsto para a segunda quinzena de julho de 2021. A Abdan passou a agregar as empresas de medicina nuclear há um ano.Além dos avanços já obtidos até aqui, o presidente da associação, Celso Cunha, revelou quais serão os próximos temas que serão atacados pela entidade daqui em diante.
“Para a medicina nuclear, acreditamos que devemos lutar pela flexibilização do mercado. Hoje, boa parte de tudo desse setor é importado. Somos altamente dependentes. Em plena pandemia, ficamos sem radioisótopos para tratamento e diagnóstico de câncer. Isso não pode acontecer, em hipótese alguma”, declarou Cunha, em recente entrevista ao Petronotícias.