Um dos Mestres da nossa música, Paulinho da Viola, em resposta aos sambas lançados do Benito de Paula, em certa ocasião, compôs uma canção que dizia “Tá legal, eu aceito o argumento, mas não me altere o samba tanto assim. Olha que a rapaziada está sentindo a falta, de um cavaco, de um pandeiro e de um tamborim”. Um levantamento feito e divulgado pela Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) apontou que a potência instalada total da fonte solar fotovoltaica, somando as grandes usinas solares e pequenos sistemas em residências, comércios, indústrias, produtores rurais e prédios públicos, já ultrapassa a soma das usinas termelétricas à carvão mineral e nucleares no Brasil.
De acordo com mapeamento da entidade, são 5.763,5 megawatts (MW) de potência da fonte solar, ante um total de 5.586,8 MW de termelétricas movidas a carvão mineral e nucleares. “Com isso, a potência total solar ultrapassa em quase 4% a destas termelétricas, baseadas em recursos não-renováveis” e com maiores impactos ambientais ao longo de todo o seu ciclo de vida”, comentou o presidente do Conselho de Administração da ABSOLAR, Ronaldo Koloszuk (foto à direita).
Toda fonte de geração é bem vinda e toda ela tem argumentos prós e contras que sempre são levados em conta. Nenhuma delas precisa passar criticar a outra para vender seus benefícios. Esse engano, a pressa de defender bandeiras amigáveis ao meio ambiente, passado para Miriam Leitão, de O Globo, fez a jornalista pousar de quem entende do assunto escrevendo uma meia verdade, que no fundo é uma mentira inteira. A Absolar merece todo respeito, mas desta vez exagerou na imprecisão. O Brasil tem grande potencial, é verdade, mas o país também precisa de energia firme para contar com ela permanentemente. Um de seus diretores, Rodrigo Sauaia, confirma o potencial do país e suas condições privilegiadas: “A energia solar fotovoltaica reduz o custo de energia elétrica da população, aumenta a competitividade das empresas e desafoga o orçamento do poder público, beneficiando pequenos, médios e grandes consumidores do País.”
Na verdade, para defender a brasa para suas sardinhas, eventualmente vemos na mídia, e até recebemos na nossa redação, informações que viraram rotina no setor elétrico. Algumas associações que representam os interesses das empresas ligadas a essas fontes de energia alternativas como a solar e a eólica, utilizam argumentos contra a geração nuclear de energia como termo de comparação. Na verdade, não há o menor sentido nessa relação. Por serem, caracteristicamente intermitentes e com baixa produtividade, essas fontes precisam ter uma grande capacidade instalada. O Presidente da ABDAN, Associação Brasileira de Desenvolvimento das Atividades Nucleares, Celso Cunha (foto à esquerda), dá um bom exemplo que esta comparação é impossível: “Apenas como exemplo, ontem (4) a carga total do país, até às 17h, ficou em 66.404 MW, a nuclear contribuiu com 1909 MW e a solar com apenas 62 MW. Além disso, classificar uma fonte que não emite gases de efeito estufa como entre as mais poluentes demonstra um preconceito e desconhecimento em relação ao nuclear que não tem sustentação em termos reais.”
Uma instalação de energia nuclear tem uma área de ocupação pequena, exigindo cerca de 2,2 quilômetros quadrados por 1.000 megawatts de capacidade instalada. Os parques eólicos exigem até 360 vezes mais área de terra para produzir a mesma quantidade de eletricidade que uma instalação de energia nuclear, segundo uma análise do Instituto de Energia Nuclear. As instalações fotovoltaicas solares (PV) requerem até 75 vezes a área terrestre. Além disso, as instalações de energia nuclear têm um fator de capacidade médio de 90%, muito mais alto que as fontes intermitentes, como eólica e solar. Por outro lado, os fatores de capacidade dos parques eólicos variam de 32 a 47%, dependendo das diferenças nos recursos eólicos em uma determinada área e das melhorias na tecnologia das turbinas. Os fatores de capacidade de energia solar fotovoltaica também variam de acordo com a localização e a tecnologia, de 17 a 28%.
Levando em consideração esses fatores, um parque eólico precisaria de uma capacidade instalada entre 1.900 megawatts e 2.800 MW para gerar a mesma quantidade de eletricidade em um ano que uma instalação de energia nuclear de 1.000 MW. Tal instalação exigiria entre 416 e 576 Km² de terra(quase duas vezes toda Ilha de Nova Iorque). Uma instalação fotovoltaica solar deve ter uma capacidade instalada de 3.300 MW e 5.400 MW para corresponder à produção de uma instalação nuclear de 1.000 MW, exigindo entre 72 e 120 km².