Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
A Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) aprovou recentemente a criação de uma diretoria no Nordeste voltada ao desenvolvimento da fonte na região. A entidade já está vislumbrando os possíveis negócios que podem surgir nos próximos anos nos estados nordestinos, em virtude das sinalizações recentes do governo federal. Como se sabe, o próximo Plano Nacional de Energia (PNE 2050) deve indicar a construção de novas usinas nucleares e a Eletronuclear já mapeou possíveis sítios para abrigar essas centrais dentro do Nordeste. A diretoria regional da associação será comandada por Carlos Mariz, que revelou ao Petronotícias algumas das prioridades e próximos passos. Além do foco no desenvolvimento das grandes usinas, Mariz diz que o Nordeste tem potencial para abrigar também as pequenas plantas nucleares. O caminho agora é abrir as portas necessárias para possibilitar este tipo de investimento. “É preciso buscar um modelo para possibilitar a participação das empresas privadas no desenvolvimento da aplicação da geração nuclear, com micro e mini usinas, dado o grande número de possibilidades de aplicação, inclusive geração descentralizada, e o interesse de grupos empresariais na produção de eletricidade”, explicou.
Como surgiu a ideia de criar a diretoria regional da ABDAN para o Nordeste?
A criação da diretoria regional foi aprovada na última reunião do Conselho da ABDAN. Agora, estamos na fase de estruturação e dando os primeiros passos. Já temos algumas pessoas interessadas em participar. A ABDAN já está instalada no Rio de Janeiro há um certo tempo, onde há um setor nuclear todo estruturado. Como a associação é uma grande catalisadora de investimentos, a nossa ideia é usar a ABDAN na região Nordeste também como catalisadora de investimentos, ampliando o espaço das atividades nucleares.
Qual a atuação situação do setor nuclear no Nordeste?
Se você olhar para o Nordeste, temos um centro regional da CNEN, que é o CRCN-NE. Temos também aqui o Museu de Ciências Nucleares, que é único na região, além do Departamento de Energia Nuclear e de outras atividades em alguns estados da região. Na Bahia, por exemplo, temos a atividade de mineração na mina de Caetité.
E ainda existem os estudos que já foram feitos pela Eletronuclear sobre possíveis sítios nos estados da Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe. Esses sítios estão detectados e, com a publicação futura do PNE 2050, devemos ter a indicação de novas usinas nucleares no Brasil. Então, a vinda da ABDAN neste momento é bastante oportuna, porque estamos precisando trazer essa experiência do Rio de Janeiro para cá e congregar aqui na região um conjunto de atividades que dariam suporte à alavancagem do setor nuclear no Nordeste.
Qual seria o foco de atuação da ABDAN nessa área?
Apesar de estarmos focando inicialmente em produção de eletricidade, a tecnologia nuclear não se resume só a isso. Por exemplo, temos as atividades de medicina nuclear, agricultura, indústrias e empresas que trabalham com isso. Estamos confiantes de que teremos uma boa atividade aqui na região. Isso parte da visão do nosso presidente, Celso Cunha. Foi ele quem percebeu essa oportunidade, com a dinamização do setor nuclear, e sentiu que este seria o momento de criar uma regional da ABDAN no Nordeste. Ele me convidou para ser o primeiro ativador dessa regional, o que me deu muita satisfação.
Que tipos de ações devem ser adotadas?
O primeiro passo é agregar corpo, que seria constituído por empresas que tenham interesse por atividades na região Nordeste. O nosso primeiro passo então será formar um corpo dos participantes da ABDAN. Vamos montar essa estrutura para que possamos começar a trabalhar nos objetivos maiores.
Que objetivos são esses?
Alguns deles são: comunicação com o público, relacionamento institucional e estudos necessários para preparação dos sítios nucleares. Esses seriam os primeiros objetivos, como também uma série de outras atividades que já vislumbramos hoje, como a questão das micro e mini centrais nucleares, que estão começando a ficar maduras. Vemos essa atividade com muito potencial de aplicação no país, em especial no Nordeste e também no Norte.
Imaginamos que a Chesf é uma empresa que vai contribuir muito conosco por conta de sua importância no Nordeste. Temos aqui também outras empresas fortes de energia na área de termelétricas, que estão interessadas sobretudo nesta questão de micro e mini centrais nucleares. Elas terão interesse em se aproximar da ABDAN regional. Temos também empresas prestadoras de serviço que estão de olho e têm nos procurado. Então, já temos uma parte inicial elaborada e agora vamos colocá-la em prática.
Poderia explicar o interesse das empresas termelétricas no setor nuclear mencionado pelo senhor?
Uma parte delas terá que substituir a geração térmica até 2025. Se as micro e mini centrais estiverem viáveis, a depender dos preços, essas empresas teriam o maior interesse em participar [desse mercado] e investir nessa linha. Será um dos pontos que daremos prioridade por aqui. Porque é algo mais próximo do porte das empresas instaladas na região. As grandes usinas nucleares exigem um investimento muito alto.
A ideia dessas micro centrais é que sejam fabricadas em série. E que já venham, inclusive, com o carimbo de licenciamento básico. Elas cabem dentro de um contêiner e demoram até 10 anos para necessitar de carregamentos de combustível. Isso dá uma flexibilidade em questão de prazo. Por isso, há o interesse dos executivos ligados ao setor termelétrico da região. Outras pessoas de mercados e indústrias, shoppings, etc. poderão olhar para isso no futuro. Eu vejo as micro centrais como uma atividade de grande expectativa aqui na nossa região.
Como a ABDAN pode contribuir para tornar esta expectativa em realidade?
A primeira coisa que a ABDAN precisa fazer é tornar as informações up-to-date. Existem vários países e empresas que estão desenvolvendo projetos de micro e mini centrais nucleares. A ABDAN teria um papel fundamental em divulgar essas informações e disseminar esse conhecimento. Através da ABDAN, pretendemos trazer as empresas e começar a discussão do que precisa ser feito. Temos que olhar também para o licenciamento, que também a ABDAN poderá ajudar a catalisar.
Isso sem desfocar das grandes centrais nucleares previstas para a região, que seguirão um caminho mais vinculado ao Ministério de Minas e Energia, Eletronuclear, etc.
A operação de usinas nucleares no Brasil, como todos nós sabemos, é da competência da Eletronuclear, conforme reza a constituição. É preciso buscar um modelo para possibilitar a participação das empresas privadas no desenvolvimento da aplicação da geração nuclear com micro e mini usinas, dado o grande número de possibilidades de aplicação, inclusive geração descentralizada, e o interesse de grupos empresariais ,na produção de eletricidade.