A Abdan (Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares), está otimista com as perspectivas do setor sob o novo governo do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
“Teremos um conjunto de novos atores e uma série de projetos que estavam em curso. E muitos desses projetos nasceram no período Lula e Dilma, quando eram presidentes, como o PROSUB, submarino com propulsão nuclear, Angra 3, a Dilma lançou um programa de 4 usinas para 2030 na época. Então seria um grande contrassenso acharmos que esse novo governo iria voltar atrás com isso.”, disse à BNamericas o presidente da Abdan, Celso Cunha.
Lula assumirá a presidência em 1º de janeiro.
Cunha (foto) destacou o projeto nuclear Angra 3 e o lançamento por Dilma Rousseff de um programa que previa quatro novas usinas nucleares até 2030, mas que nunca saiu do papel. Ele também citou o programa Prosub para a construção de um submarino nuclear, projeto que está sendo executado pela Marinha do Brasil.
A Abdan tem discutido diversos temas relacionados ao nuclear e enviado suas sugestões à parte da equipe de transição de Lula que está a cargo do setor de ciência e tecnologia, segundo Cunha.
Entre elas está a criação de uma autoridade de segurança nuclear, que veria a separação da regulação e fiscalização das demais atividades realizadas pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
“Um ponto muito importante é que o Brasil já se comprometeu perante a AIEA [Agência Internacional de Energia Atômica], que já vem cobrando há mais de dez anos essa separação entre a regulação e fiscalização das outras atividades da CNEN. Isto é algo que precisamos que avance logo e reduz a percepção de risco e demonstra comprometimento, disse Cunha.
Outro motivo para o otimismo do setor é a tecnologia dos pequenos reatores modulares (SMR), que, segundo Cunha, pode tornar a energia nuclear “grande de novo”.
“Com os pequenos reatores, nós temos a possibilidade de construir o que o mundo todo está correndo atrás. E fazê-lo em território nacional, podemos fornecer o combustível e alavancar com tarifas competitivas”, afirmou.
O Brasil tem a sétima maior reserva de urânio do mundo e “em breve” poderá subir para o segundo lugar, disse Cunha.
“Estamos sentados em um barril de dinheiro. Com isto, é fundamental que o país se posicione para exportar não apenas minério, mas o combustível com valor agregado”, pontuou Cunha, acrescentando que a entrada da iniciativa privada na extração de urânio é fundamental.
ANGRA 3 E TARIFAS DE ENERGIA
Sobre os riscos potenciais para a conclusão das obras de Angra 3 devido à mudança de governo e à privatização da Eletrobras, Cunha não vê motivos para não concluir a obra de R$ 21 bilhões (US$ 3,97 bi).
“Não acredito que o novo governo vá paralisá-la”, afirmou.
Ainda há algumas questões a serem resolvidas, como a definição do preço da energia que a usina vai produzir – assunto bastante delicado em um país com a segunda tarifa de energia mais cara do mundo.
“Já vimos as declarações do próprio coordenador do grupo de energia, Mauricio Tolmasquim, falando do problema que existe com a tarifa, e que vem mais de US$ 500 bilhões para o povo pagar. É uma equação muito grande e não podemos olhar de forma isolada”, disse.
Ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Tolmasquim criticou recentemente o que considera medidas muito caras tomadas pelo presidente Jair Bolsonaro e pelo Congresso, como a privatização da Eletrobras sendo anexada à obrigatoriedade de contratação de usinas termelétricas a gás em locais não atendidos por gasodutos, bem como a contratação obrigatória de pequenas centrais hidrelétricas.
Tolmasquim também criticou o governo Bolsonaro pela forma como forneceu grande apoio financeiro ao setor de energia elétrica durante e após o auge da pandemia de Covid-19.
Em resposta, o Ministério de Minas e Energia (MME) divulgou na terça-feira (13) um comunicado, dizendo que as declarações de Tolmasquim estavam repletas de desinformação e os números que ele apresentou eram “pura ilação”.
Fonte: BNAméricas