Foi lançado na última terça-feira (22/11), em Brasília, o modelo de plano de negócios para a instalação de um irradiador multipropósito no Brasil, tecnologia que pode contribuir para evitar o desperdício de alimentos, como frutas, e conter pragas nas lavouras.
O documento “Modelo de plano de negócios voltado à instalação e funcionamento sustentável de irradiador multipropósito para fomento do uso a alimentos e outros produtos do setor agropecuário”, publicado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), simula a instalação de um irradiador que utilizaria feixes de elétrons para o tratamento de frutas tropicais.
No lançamento, o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Marcos Montes, destacou a importância de dar visibilidade ao documento. “É uma importante ferramenta para demonstrar ao mercado a viabilidade da tecnologia, que contribui para potencializar as exportações dos produtos agropecuários brasileiros, além de reduzir o desperdício”.
Alimentos tratados com a tecnologia de irradiação já são consumidos em mais de 60 países. De forma segura, a técnica permite reduzir perdas de produção, estender a vida útil e evitar intoxicações por alimentos contaminados. O irradiador multipropósito tem se mostrado eficiente no controle de insetos e micro-organismos patogênicos.
Com essa tecnologia, o Brasil poderia ampliar as exportações, já que a durabilidade das frutas, seria estendida. O documento menciona também que o equipamento poderia ser usado no tratamento de carnes, hortaliças, condimentos, castanhas, opoterápicos, fitoterápicos, polpas de frutas, rações para animais, embalagens e outros produtos.
O modelo, construído ao longo de um ano por uma consultoria especializada, estima que a tecnologia poderia gerar um faturamento anual de R$ 261 milhões com retorno a partir de 3,9 anos. O volume mínimo de produtos irradiados em três turnos de operação seria da ordem de 270 mil toneladas.
O secretário de Coordenação de Sistemas do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, contra-almirante Marcelo da Silva Gomes, ressaltou que o uso da tecnologia nuclear vai muito além do campo da energia, podendo ser utilizada no combate à insegurança alimentar. “O Brasil é um dos poucos países que domina todo o ciclo de combustível nuclear. Temos o minério, dominamos o ciclo e dispomos de tecnologia. Temos todas as condições de ser um importante player mundial”, afirmou.
Participaram ainda do evento o chefe da Assessoria Especial de Assuntos Estratégicos, Guilherme Bastos; o secretário de Inovação, Desenvolvimento Sustentável e Irrigação do Mapa, Cleber Soares; o diretor de Desenvolvimento das Cadeias Produtivas do Mapa, Alexandre Barcellos; o diretor de Programas do Mapa, Luis Eduardo Rangel; o coordenador-geral de Sistemas Integrados de Produção Agrícola, Marcus Vinicius Martins; o coordenador-geral de Sanidade Animal, Jorge Caetano Junior; a coordenadora de Desenvolvimento de Cadeias Agrícolas, Lara Sousa; a superintendente federal de Agricultura em São Paulo, Andréa Moura; e o assessor técnico do Departamento de Coordenação Nuclear do GSI, Fabiano Petruceli.
Histórico
A ideia de estimular a instalação de um irradiador multipropósito para atendimento ao agro ganhou corpo em 2018, quando o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), por meio do Comitê de Desenvolvimento do Programa Nuclear Brasileiro (CDPNB), vislumbrou o potencial da tecnologia e convidou o Mapa para participar do comitê.
Em 2019, na gestão da ministra Tereza Cristina, foi instituído um Grupo de Trabalho (GT) para conduzir o tema junto ao Mapa. Esse GT, por meio do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), lançou o edital para selecionar a consultoria que poderia criar o plano de negócios. A profissional escolhida foi Patrícia Wieland, doutora em engenharia de produção pela PUC-Rio e vice-presidente do Conselho de Administração da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar).
O Mapa solicitou à consultoria a entrega de quatro produtos: um levantamento sobre o mercado internacional de produtos irradiados; dois planos de marketing e divulgação da tecnologia do irradiador multipropósito (um para o setor produtivo e outro para a sociedade em geral); um relatório técnico, descritivo e detalhado sobre fatores a serem considerados para a instalação, funcionamento sustentável e viabilidade do negócio de um irradiador multipropósito, com utilização prioritária na irradiação de produtos agropecuários, em especial para frutas e hortaliças; e, por fim, o modelo de plano de negócios voltado à instalação e funcionamento sustentável de um irradiador multipropósito.
Fonte: Revista Cultivar