Para que o setor nuclear brasileiro possa crescer, o Estado precisa flexibilizar a construção e a operação de novas usinas, permitindo a participação do capital privado neste processo, sob controle da Eletronuclear.
“Precisamos contar com o mercado privado para entrar dinheiro”, diz o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento de Atividades Nucleares (Abdan), Celso Cunha. Nesse sentido, durante a Rio Inovattion Week, o engenheiro destacou ao EnergiaHoje que a MP 1.133/22, que autoriza a participação do setor privado na exploração de minérios nucleares, é um avanço.
A Medida aguarda análise dos deputados na Câmara para, na sequência, ser encaminha ao Senado Federal. “Essa MP, vale destacar, flexibiliza a atividade, não a libera. Então as empresas podem trabalhar com a INB, pagar e explorar. Pergunta a vocês: porque que o país tem que cavar buraco? Não é papel do Estado. Mas ele tem que controlar a atividade”, disse, citando o exemplo do Consórcio Santa Quitéria, parceria da INB com a Galvani, empresa produtora de fertilizantes fosfatados, para exploração de urânio e fosfato da jazida de Itataia, no município cearense de Santa Quitéria.
A previsão é que sejam produzidas anualmente pelo consórcio 1 milhão de toneladas de fertilizantes fosfatados, 220 mil toneladas de fosfato bicálcico (para ração animal) e 2.300 toneladas de concentrado de urânio. “Essa é uma forma inteligente de unir Estado e a iniciativa privada por meio de uma PPP. Com essa mina, teremos urânio suficiente para alimentar Angra 1, Angra 2 e Angra 3, e ainda sobre um pouco”, argumenta. O início das operações está previsto para 2025.
Perguntado se concorda com a opinião de Leonam Guimarães, ex-presidente da Eletronuclear, segundo a qual o setor nuclear brasileiro não avança por falta de cumprimento de prazos, haja visto o exemplo de Angra 3, Cunha destacou: “O Brasil é campeão em não cumprir prazos. Então isso não é Celso Cunha, presidente da Abdan um problema só do setor nuclear, isso é um problema do país”.
Atualmente, a energia nuclear é responsável por 3% da matriz energética no Brasil. O país tem a 7ª maior reserva de urânio do mundo, e sinalizou a construção de 8 a 10 novas usinas até 2050.
Inovação com SMRs
Ao falar sobre inovação no setor de geração de energia nuclear, Cunha citou os SMRs (sigla para Small Modular Reactors, no inglês). Segundo o presidente da Abdan, esses pequenos reatores modulares podem substituir a potência elétrica de muitas plantas de carvão e de gás, reduzindo emissões e alcançando localidades isoladas ou de difícil acesso. “Esses pequenos reações podem fazer a modulação do sistema para as usinas solares também”, exemplifica.
Segundo Cunha, existem 87 projetos em desenvolvimento pelo mundo para uso dos SMRs. “Isso não é mais ficção, é um fato e virou uma corrida industrial. Nesse contexto, todo mundo quer casar com o Brasil, que tem combustível e todas as condições favoráveis a iniciativas como essa em seu território. Mas o Brasil precisa querer casar, parar de ficar só namorando. Essa figura de linguagem define nosso momento”, finalizou.
Fonte: Energia Hoje