Outro setor que também olha para a produção de hidrogênio é o de geração de energia nuclear. Em julho deste ano, um grupo de mais de 40 organizações da indústria nuclear, organizações não governamentais (ONGs), governos e academia lançou a Iniciativa do Hidrogênio Nuclear (NHI, na sigla em inglês), coalizão internacional para discutir o uso da fonte nuclear para a produção de H2.
É possível usar a eletricidade gerada pela fonte nuclear na eletrólise tradicional para produzir hidrogênio. A energia nuclear não usa combustíveis fósseis, por isso, é vista como solução para produzir o combustível sem emissão de carbono.
Há iniciativas do tipo em andamento nos Estados Unidos, no Canadá e na França. Os reatores de geração nuclear também podem realizar eletrólise em alta temperatura e com uso de vapor, processo mais eficiente para a produção de H2.
“Muito hidrogênio vai vir de fontes renováveis, como eólica e solar, mas elas não vão ser suficientes para satisfazer todo o crescimento esperado na demanda, por isso a nuclear pode ser um outro instrumento”, diz Carlos Leipner, diretor de estratégia global de energia nuclear da Clean Air Task Force, ONG de combate às mudanças climáticas que integra a coalizão NHI.
No caso do Brasil, a Eletronuclear gera hidrogênio como subproduto do processo das usinas nucleares de Angra dos Reis (RJ). O aproveitamento comercial desse hidrogênio começou a ser estudado recentemente.
Leipner diz que há estimativas de que o H2 pode atender até 20% da demanda energética global até 2050. “Hoje 80% da energia global depende de combustíveis fósseis, que são difíceis de eletrificar e de abater emissões, como transporte marítimo e processos industriais.”
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A produção a partir da fonte nuclear, no entanto, ainda enfrenta alguns desafios. Pode existir necessidade de que as usinas precisem solicitar novas licenças de operação para produzir o H2.
“O marco regulatório precisa definir como vamos tratar esse hidrogênio, desde a geração até o usuário final, passando por questões como o estoque dentro das fábricas e o transporte. Como é uma molécula muito pequena, o hidrogênio tem uma tendência a vazar de dutos, então existe a necessidade de melhorar sensores para detecção, por exemplo. Temos que trabalhar juntos para definir esses temas”, diz Leipner.
Fonte: Valor