Já faz um tempo que há muita discussão sobre uma nova forma de geração de energia nuclear, uma tecnologia cujas grandes promessas até agora se chocaram com dúvidas generalizadas sobre as possibilidades reais de concretização. Agora surge uma nova iniciativa que pode voltar a alimentar o debate sobre o tema.
O Consórcio EUROfusion, que inclui 21 organizações na Itália coordenadas pela Enea (Agência Nacional de Novas Tecnologias, Energia e Desenvolvimento Econômico Sustentável), iniciou oficialmente o projeto da primeira usina de fusão de demonstração.
O projeto, chamado Demo (acrônimo que significa Demonstration Fusion Power Reactor) estará operacional em cerca de vinte anos, talvez um pouco menos. Até 2050, de fato, esse novo tipo de reator promete ser capaz de produzir uma quantidade de eletricidade igual a cerca de 300-500 MW de forma “sustentável e segura”, permitindo atender ao consumo anual de cerca de 1,5 milhão de famílias.
Um processo “reverso”
Usinas de fusão ainda estão em estudo. Para simplificar a matéria o máximo possível, elas visam gerar eletricidade através da fusão controlada de átomos de luz que se unem para formar um átomo mais pesado.
Trata-se, portanto, de um processo inverso comparado ao atualmente em uso em usinas nucleares, em que reações de fissão produzem energia a partir da quebra de átomos pesados (principalmente urânio ou plutônio) em átomos mais leves.
Precisamente a adoção de átomos de luz, como os isótopos de hidrogênio ou deutério e trítio, tornaria os processos mais seguros, mas estes, para serem eficazes, precisam de tecnologias ainda sendo definidas como capazes de fazer com que os átomos atinjam velocidades relativas muito altas que lhes permitam colidir e se fundir.
Um passo além da experimentação
Voltando ao projeto Demo, este representará o próximo passo para a adoção dessa tecnologia após o início da fábrica experimental que está em construção em Cadarache, no sul da França.
Alessandro Dodaro, diretor do Departamento de Fusão e Tecnologias para Segurança Nuclear da Enea, diz:
“Este é um passo importante que levará a pesquisa de fusão de um escopo puramente experimental à produção real de eletricidade. Para isso, a DEMO terá que adotar as tecnologias mais avançadas para ‘controlar’ o plasma e gerar eletricidade de forma segura e contínua, operando com um ciclo de combustível fechado.
Para isso, estamos criando, com nossos parceiros, o super laboratório Divertor Tokamak Test (DTT) no Centro de Pesquisa Frascati. Aqui vamos testar novas e diferentes configurações e materiais para o desviador, o dispositivo que terá a tarefa de descartar o calor residual dentro dos reatores de fusão com fluxos de energia superiores a 10 milhões de Watts por metro quadrado, comparável aos da superfície do Sol”.
Enquanto se espera que a planta de demonstração seja ativada em 2050, a fusão continua a ser testada em laboratório. A usina britânica de jatos (Joint European Torus), por exemplo, alcançou sucesso histórico ao produzir 59 megajoules de energia de fusão usando a mesma mistura de deutério-trítio na forma de plasma que será adotado pelo projeto Iter, o projeto Demo e futuras usinas de fusão.
Fonte: InsideEVs