A Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) tem feito uma série de reuniões com os comitês de campanha dos principais candidatos à Presidência da República nas Eleições 2022. Durante esses encontros, a entidade tem ressaltado a importância de ampliar a presença da fonte nuclear na matriz energética do país. Levando em conta as oito usinas previstas dentro do Plano Nacional de Energia (PNE), os investimentos previstos são da ordem de US$ 56 bilhões até 2050. Recentemente, o presidente da ABDAN, Celso Cunha, reuniu-se com representantes da campanha do ex-presidente Lula (PT). Durante o encontro, dois temas em especial ganharam atenção especial: a conclusão das obras de Angra 3 e o início da construção do Reator Multipropósito Brasileiro (RMB). “Os representantes da campanha presentes na reunião disseram que vão levar esses dois temas para a plenária, por serem preocupações extremamente legítimas”, explicou o presidente da ABDAN. Para lembrar, Angra 3 deve ter suas obras reiniciadas no mês de agosto, enquanto o RMB ainda aguarda o início de sua construção. O reator multipropósito irá dar autossuficiência ao Brasil na produção de radioisótopos – usados no tratamento e diagnóstico do câncer.
Para começar, poderia falar um pouco sobre como foi a reunião com os membros da campanha do ex-presidente Lula?
Foi uma reunião muito boa, com duas horas de duração. O comitê de campanha do candidato Lula está com mais de 160 agendas e a nossa reunião foi a quinta até aqui. Foi uma deferência enorme por parte deles. Depois de explicarmos os detalhes do nosso caderno de propostas, duas pautas específicas foram ressaltadas: a conclusão de Angra 3 e a construção do Reator Multipropósito Brasileiro. Os representantes da campanha presentes na reunião disseram que vão levar esses dois temas para a plenária, por serem preocupações extremamente legítimas. Eles entenderam a necessidade e a urgência de atenção nesses assuntos.
Agora, gostaria que falasse também do encontro com a campanha da candidata Simone Tebet (MDB). Quais foram os assuntos abordados?
Essa foi uma agenda do Fórum das Associações do Setor Elétrico (FASE), do qual eu sou o primeiro vice-presidente. Também participaram do encontro o presidente do FASE, Mário Menel, e o segundo vice-presidente do fórum, Rodrigo Ferreira. Apresentamos as propostas do FASE para a Elena Landau, coordenadora do programa de governo da candidata Simone Tebet. Foram três horas de reunião e debatemos ponto a ponto cada uma das 16 propostas do FASE.
Debatemos muito o tema do custo de energia. Todos estão muito preocupados com isso. Tratamos também de vários outros temas que estão no contexto da proposta do FASE, que tratam de governança setorial, encargos e subsídios, modernização do mercado de energia e atração de investimentos.
Como já noticiamos, a ABDAN já entregou as propostas do setor nuclear para outros candidatos, de diferentes espectros políticos. Poderia falar um pouco como tem sido a receptividade desses temas até aqui?
Eu avalio que o resultado tem sido extremamente positivo. As pessoas que estão envolvidas nas campanhas estão entendendo a necessidade de investimentos no setor nuclear. O mundo tem duas necessidades muito urgentes: energia e alimentos. As consequências causadas pela guerra na Ucrânia estão deixando isso bem claro.
Em relação a energia, a maioria dos países está adicionando a fonte nuclear em suas matrizes. Enquanto isso, a irradiação de alimentos tem ajudado muito a aquecer o debate sobre a importância da tecnologia nuclear. Muitos estão impressionados com a quantidade de desperdício de alimentos na agricultura, que chega a 30%. A irradiação de alimentos pode reduzir essas perdas, além de abrir novos mercados para os produtos brasileiros. Isso são temas que estão sendo muito bem aceitos. Eu diria que estamos encontrando receptividade dentro dos grupos com os quais estamos conversando.
Essas discussões com os presidenciáveis aconteceram no mesmo momento em que o Parlamento Europeu aprovou considerar a fonte nuclear como uma energia verde. Acredita que esse movimento na Europa trará reflexos para o Brasil?
Tratamos sobre esse tema durante as reuniões. As linhas de financiamento estão colocadas e sendo aprovadas, com canalização de recursos para o setor nuclear mundial. O Brasil não pode ficar de fora disso. O nosso Plano Nacional de Energia aponta para a construção de 8 a 10 novas usinas até 2050. Se o país construir oito usinas, estamos falando de US$ 56 bilhões em investimentos. É um volume de recursos muito interessante que não pode ser desprezado. Cada usina dessa chega a ter, no pico das obras, até 7 mil empregos diretos e indiretos. Levando em conta o momento em que o Brasil e o mundo inteiro vivem, isso é um tema importante.
No momento em que o Parlamento Europeu considera a nuclear como energia verde e abre linha de crédito para construção de usinas, passa a ser fundamental que o Brasil coloque atenção nessa fonte de energia. Imagine a possibilidade de ver a Indústrias Nucleares do Brasil (INB) fornecendo combustível para os pequenos reatores modulares (SMRs), por exemplo. Muitas empresas estão declarando interesse em comprar combustível da INB para seus SMRs. Mas para isso, precisamos abrir o mercado e permitir que as empresas participem, comprando e vendendo. É necessário destravar o setor.
Fonte: Petronotícias