Nuclear Summit: governo indica parcerias com o setor privado para mineração e geração de energia

O setor nuclear brasileiro deve permitir em breve uma maior participação de entes privados nas atividades de mineração de urânio e geração de energia. Essa foi uma das novidades anunciadas hoje (25) pelo governo federal durante a abertura do evento Nuclear Summit 2022, que está sendo organizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN). A inauguração do congresso online, que será realizado até a próxima quinta-feira (28), reuniu diversos membros da indústria nuclear brasileira. O Ministério de Minas e Energia (MME) foi representado no evento pelo chefe da assessoria especial de gestão estratégica da pasta, Vice-Almirante Noriaki Wada. Ele revelou que o ministério já está fazendo os ajustes finais em uma proposta de alteração da legislação atual, permitindo que entes privados participem da atividade de mineração de urânio.

A apresentadora do evento, Fernanda Prestes, e o presidente da ABDAN, Celso Cunha

Em relação à mineração de urânio, vemos muitas oportunidades de parceria com a iniciativa privada. Já temos uma proposta de mineração de urânio construída. Estamos aguardando os ajustes finais para enviá-la ao Congresso Nacional. Como resultado desse trabalho, queremos impulsionar as outras etapas do desenvolvimento do ciclo do combustível nuclear, com o objetivo de alcançar a autossuficiência na produção do combustível, abastecendo nossas usinas e transformando o Brasil em exportador de produtos do ciclo do combustível nuclear”, disse Wada. Por conta de conflitos de agenda, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, não participou do evento.

O representante do MME no Nuclear Summit declarou ainda que a construção de reatores para geração elétrica também é uma área que tem muito a ganhar com as parcerias com a iniciativa privada. “Assim, pensando em uma política de longo prazo para o desenvolvimento da geração nuclear na matriz brasileira, esse assunto está sendo trabalhado para ser consolidado como uma diretriz no âmbito do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE)”, acrescentou o assessor da pasta.

A abertura do Nuclear Summit teve forte presença de representantes da esfera internacional. O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, disse no evento que as consequências das mudanças climáticas tornarão a vida em nosso planeta cada vez mais difícil. Ele reforçou que o Brasil está ciente desse desafio e que o país se comprometeu a reduzir as emissões de gases do efeito estufa pela metade até 2030 em comparação com os níveis de 2005.

Grossi frisou ainda que o Brasil escolheu ampliar a presença da geração nuclear em sua matriz elétrica e que um dos possíveis caminhos para concretizar esse plano será o investimento em pequenos reatores modulares (SMRs, na sigla em inglês). “A AIEA também está preparada para ajudar nesse âmbito. Nossa plataforma de SMRs fornece, aos estados-membros, acesso simplificado a toda a gama de suporte da AIEA. O Brasil está bem representado nessa recém-lançada iniciativa de harmonização e padronização nuclear para implementação segura de SMRs. Apoiaremos a implementação efetiva dessa importante tecnologia”, declarou o diretor da AIEA.

Nessa mesma linha, o embaixador do Brasil na missão permanente da AIEA, Carlos Duarte, acrescentou que o Brasil mantém um relacionamento extenso e intenso com a agência. “O momento é muito oportuno para a discussão do futuro do setor nuclear no Brasil e no mundo. Há desafios e oportunidades na segurança, na proteção física, nas salvaguardas e em outros pontos. Há desafios também nas tecnologias, como no caso dos SMRs”, ponderou.

Uma engrenagem importante do setor nuclear brasileiro é a Marinha, que foi representada no evento por seu diretor de desenvolvimento nuclear e tecnológico, Almirante de Esquadra Petronio de Aguiar. Em sua fala, o militar disse que a Marinha do Brasil reconhece que a concepção e a construção de reatores modulares de pequeno porte espelham o interesse mundial crescente, tendo em vista o seu grande número de aplicações. Como se sabe, a Marinha está construindo o Laboratório de Geração Nucleoelétrica (LABGENE) – que é um protótipo, em terra, da planta nuclear do futuro submarino com propulsão nuclear brasileiro (SN-BR).

O reator projetado e em construção no LABGENE tem potencial de ser adaptado para o emprego do álcool, em benefício da sociedade brasileira, provendo energia e água dessalinizada para regiões com baixo nível de armazenamento ou baixa qualidade de recursos hídricos. Tal afirmação está pautada desde 2016 na proposição do Projeto de Sal, que envolve a Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), a Marinha do Brasil e a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)”, detalhou. O Almirante Petronio disse que análises permitem estimar que a partir de um reator semelhante ao do LABGENE seria possível atender a necessidade de abastecimento de água de um número muito grande de pessoas ou, alternativamente, para outros usos industriais.

O Almirante também lembrou de possíveis aplicações da energia nuclear para o ambiente marinho do país. “Para o Brasil, considerando a importância da nossa Amazônia Azul e da economia do mar, com seus reconhecidos potenciais, a opção nuclear parece ser particularmente atraente com a instalação de SMRs em áreas costeiras e ilhas oceânicas, cogeração de energia, dessalinização, emprego de micro reatores na produção de óleo e gás, entre outras iniciativas”, concluiu.

Uma das novidades do Nuclear Summit 2022 será a realização de um inédito curso internacional sobre SMRs. Com um novo design, e menores custos de implantação, essa tecnologia tem sido apontada como o futuro da indústria nuclear. Adicionalmente, por oferecerem flexibilidade, os SMRs também podem ser usados como complemento às usinas movidas por fontes variáveis, como eólica e solar.

A aplicação da tecnologia de SMRs vai permitir a redução de riscos econômicos, produção de hidrogênio, maior flexibilidade, dessalinização de água, produção de calor e muitos outros atributos para os quais a geração nuclear atual não é tão flexível”, disse o presidente da ABDAN, Celso Cunha. “O Nuclear Summit vai discutir mais do que temas técnicos. É um evento sobre as principais tendências do setor, envolvendo as novas tecnologias e os rumos políticos que impactam os programas nucleares de vários países no mundo. Por mais que seja um evento muito voltado para quem faz parte do setor nuclear, também é um momento muito importante para as pessoas que estão conectadas nas grandes transformações mundiais”, completou.

Outro tópico discutido na abertura do evento foi a presença feminina na indústria nuclear mundial. Esse tema, inclusive, será abordado com maior abrangência durante um painel do Nuclear Summit na quarta-feira (27), a partir das 9h. Para a presidente da World Nuclear Association (WNA), Sama Bilbao y León, será necessário recrutar todos os talentos disponíveis para concretizar a promessa de escalar a energia nuclear a um novo patamar. “É importante que a indústria global de energia nuclear esteja preparada para atrair essas jovens mulheres para as carreiras de Ciência, Tecnologia e Engenharia, destacando as oportunidades que existem nessas áreas”, avaliou.

Fonte: Petronotícias