A energia nuclear é um modo de se gerar grande quantidade de energia por meio da fissão, quando um núcleo pesado é bombardeado por nêutrons, como o que ocorre com o Urânio-238. A partícula se divide em outras duas mais leves e produz energia.
No entanto, esses núcleos pesados são altamente radioativos e duram muito tempo na natureza. Caso ocorra um desastre, uma área inteira pode ficar inabitável por dezenas de anos, como os casos de Chernobyl e Fukushima.
Os reatores a tório, do contrário, são menos perigosos e esse elemento não é radioativo. O professor e pesquisador do Instituto de Física de São Carlos da USP, Euclydes Marega Júnior, explica que o interesse nesse tipo de reator também ocorre devido ao Tório-232 ser “encontrado em maior abundância na natureza que o urânio”.
Funcionamento de um reator a tório
Júnior explica que, “como o tório não é um elemento radioativo, precisa de nêutrons para que ele vire um urânio”. Nesse sentido, não é possível fazer um reator apenas com tório. Com a sua transformação para o Urânio-233, é possível realizar a fissão nuclear, que irá produzir calor e, com isso, rodar uma turbina que produzirá energia elétrica.
Outro ponto abordado pelo pesquisador sobre os reatores a tório é a não utilização de água pressurizada — em alta pressão —, o que diminui os riscos de explosões. Por causa disso, os reatores têm sempre uma forma arredondada e, lá dentro do núcleo, a água fica resfriando, para que haja um controle da reação.
O professor destaca que, “no caso do reator a tório, seria um sal que resfria o núcleo do reator. Esse sal não é de alta pressão”. Sendo assim, não há necessidade de se construir uma estrutura muito complexa. “Eu posso fazer com que a construção seja bem mais simplificada”, ressalta.
Vantagens
Apesar de produzir menos energia em relação aos movidos a urânio, os reatores a tório, além de terem sua estrutura mais facilitada e não precisarem de um sistema sofisticado de água para fazer seu resfriamento, têm vantagens que os tornam econômicos e sustentáveis.
A primeira delas diz respeito ao tempo de vida mais curto do tório na natureza. “Praticamente todo o combustível, ou seja, todo o tório se transforma em urânio e, a partir daí, em elementos mais leves”, que têm um “tempo de vida radioativo muito mais curto”, pondera o pesquisador.
Além dele ser mais seguro porque produz menos resíduos radioativos, o professor destaca que “ele também é bem mais econômico do que os reatores atuais e necessita de uma menor quantidade de combustível nuclear para funcionar”.
O plutônio, um dos subprodutos das reações nucleares com urânio, é um problema, pois, nesse caso, não tem destinação. Mas, nos reatores a tório, esse resíduo pode ser utilizado no formato de óxido-plutônio para enriquecer o tório — juntos formam Tório-MOX — e, sendo assim, reciclado. O professor explica que o plutônio “vai fornecer o nêutron para o tório para que ele vire um Urânio-233”, este que é fissível, possibilitando a reação nuclear.
Reator a tório como uma das novas matrizes energéticas da China
A China está desenvolvendo um reator a tório para poder se tornar neutra em carbono até 2060 e, assim, não depender de combustíveis fósseis. No país há grande quantidade de terras raras que, se processadas, têm como um dos subprodutos o tório, conforme explica o professor. “A China tem um interesse muito grande porque ela é extremamente dependente de energia para que se mantenha hoje a infraestrutura que criou nos últimos 30, 40 anos”.
Ele prossegue explicando que a China não é produtora de gás natural e nem de petróleo. Logo, desenvolver uma matriz energética tão vantajosa, não só do ponto de vista ambiental, mas do econômico, com a independência de combustível, seria uma estratégia interessante aos chineses.
É viável construir uma usina nuclear movida a tório no Brasil?
De acordo com o professor, é inviável, na atualidade, a construção de uma usina nuclear a tório no Brasil. “Não tem nenhum tipo de pesquisa baseada nessa parte de reatores. Ou seja, a nossa pesquisa é muito pequena”. Além disso, não haveria como utilizar as estruturas contidas em Angra dos Reis, pois já foram projetadas para resfriamento com água pressurizada.
Fonte: Jornal da USP