Antes mesmo da retomada das obras de Angra 3, o governo planeja a construção de uma nova usina nuclear no país, com início de operação prevista para 2031. A instalação da usina consta no Plano Decenal de Energia (PDE) de 2031, documento que serve de base para o planejamento do setor e que foi colocado em consulta pública pelo Ministério de Minas e Energia nesta segunda-feira.
O governo não indica exatamente o local de construção da nova usina, mas diz que ela ficará no Sudeste ou no Centro-Oeste. “Os atributos de confiabilidade de geração, elevado fator de capacidade e livre de emissões de gases causadores de efeito estufa, concretizam essa tecnologia como opção na matriz elétrica brasileira”, defende o plano elaborado pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Com duas usinas (Angra 1 e 2, em Angra dos Reis-RJ), a matriz responde hoje por menos de 3% de toda a energia gerada no país. A previsão oficial é que a nova usina tenha capacidade de gerar 1 gigawatt (GW) de energia, o suficiente para abastecer uma cidade com 1,5 milhão de habitantes.
No PDE, o governo argumenta que o país é privilegiado também na oferta de urânio, combustível necessário para as usinas nucleares, e domina toda a tecnologia do ciclo desde a mineração até a montagem. “Há de se ressaltar também o quadro técnico de pessoas com experiência de sucesso na operação e manutenção das usinas de Angra 1 e 2, bem como centros de ensino e pesquisas na área nuclear”, acrescenta.
Com relação à usina nuclear de Angra 3, de 1,405 GW, a expectativa do governo é que o projeto inicie a operação comercial em novembro de 2026, com a planta em plena capacidade no ano seguinte. A construção de Angra 3 parou depois de denúncias de corrupção e por conta da deterioração do cenário fiscal. Agora, o governo busca parceiros e uma forma de fazer com que a obra seja retomada.
A construção de usinas nucleares sempre esteve nos planos do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, que é um entusiasta do setor. Mas, até agora, não havia formalização da construção de uma nova usina no médio prazo.
Atualmente, só o governo pode construir usina nuclear porque a Constituição diz que isso é competência exclusiva da União. As duas usinas nucleares são operadas pela Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras.
A exploração de urânio, combustível das usinas nucleares, também é monopólio da União. De acordo com fontes do setor, essas duas questões são entraves para a construção de usinas nucleares. Hoje, a Eletronuclear tem poucos recursos para montar a construção de uma usina.
Além disso, será preciso aumentar a exploração de urânio, que hoje só é permitida à iniciativa privada se houver outro mineral associado em grande volume, como acontece em Santa Quitéria, no Ceará
Albuquerque já sinalizou interesse em quebrar o monopólio da União na exploração da energia nuclear, mas para isso será preciso mudar a Constituição — e, até agora, o governo não propôs isso ao Congresso.
O Plano Decenal de Energia estima ainda que a capacidade instalada para geração de energia elétrica aumentará 37% nos próximos dez anos, alcançando 275 gigawatts (GW) em 2031, com as fontes eólica e solar ganhando espaço na matriz enquanto a hídrica terá sua fatia reduzida a menos de 50%. O documento prevê que o parque gerador nacional passará dos atuais 200 GW para 275 GW em 2031.
Um dos principais destaques é a geração distribuída de energia — pequenas usinas para geração própria, normalmente solares, instaladas em telhados ou terrenos. Essa modalidade deverá atingir 37 GW em dez anos (ante 8 GW atuais), chegando a 14% da capacidade instalada total.
Já no caso das hidrelétricas, a expectativa é de que sua participação relativa na matriz continue caindo. Em 2031, as hidrelétricas devem representar 45% da capacidade instalada total do país, contra 58% em 2021 e 83% no início dos anos 2000.
O governo prevê ainda um aumento de 12 GW da oferta de térmicas não renováveis, que podem ser movidas a gás natural, carvão mineral, óleo, diesel e gás industrial. A expectativa é de que esse grupo de usinas some 35 GW em 2031.
Fonte: O Globo