Se você não está acostumado com o tamanho do mercado gerado pelo uso pacífico da energia nuclear ou, por desconhecimento técnico, tem algum preconceito quanto a seu uso, esta participação especial de Ivan Dybov, Diretor para a América Latina da empresa russa Rosatom, no Projeto Perspectivas 2023, pode esclarecer muito bem sobre isso. Ele apresenta em detalhes o avanço da empresa no Brasil, seu crescimento e sua participação em diversos segmentos dentro da gama de negócios proporcionados pela energia nuclear. Seja na área de geração, combustível ou para medicina nuclear. Ele fala também sobre as perspectivas do crescimento da companhia no Brasil, na América Latina, e revela que a Rosatom está pronta para apoiar o Brasil em todos os setores da geração nuclear pacífica. Vamos, então, conhecer melhor esses detalhes:
– Сomo a sua empresa atuou em 2022? Os resultados foram positivos? Como os negócios transcorreram?
– Estamos muito satisfeitos com nosso desempenho em 2022. Primeiramente, estamos contentes por termos conseguido expandir nossa cooperação com o Brasil na área do ciclo do combustível nuclear, vencendo a licitação para a prestação de serviços de enriquecimento de urânio por um contrato de cinco anos. Isto estabelece uma boa base para o desenvolvimento de nossa cooperação em matéria de ciclo do combustível nuclear no futuro.
Além disso, a Rosatom continua a fornecer produtos isotópicos no âmbito de um contrato de longo prazo, com duração de cinco anos. Este ano conseguimos expandir nossa parceria com o Brasil na área de fornecimento de isótopos para aplicações industriais: em junho foi assinado um contrato entre JSC Isotope e ELETRONUCLEAR para o fornecimento, em 2022-2024, de 45 kg de zinco, empobrecido no isótopo Zn-64 ≤1%, como acetato dihidratado. Este produto é utilizado como aditivo em sistemas de arrefecimento dos reatores nucleares do tipo PWR (Reator de água pressurizada) nas usinas nucleares. O uso de zinco-64 empobrecido inibe a corrosão e também reduz o acúmulo de radionuclídeos de cobalto. No Brasil, o material será utilizado para a usina nuclear Almirante Álvaro Alberto (unidades 1 e 2). O primeiro lote de acetato dihidratado foi entregue em novembro. Além disso, estamos aguardando a decisão sobre a licitação para o fornecimento de isótopo de lítio, onde fomos o único participante.
Este ano também efetuamos o desembarque do equipamento para o centro de pesquisas nucleares em Belo Horizonte para o reator Triga e até o final deste ano estamos aguardando a celebração de um contrato para a sua instalação.
No geral, o ano de 2022 foi um ano bastante bem-sucedido para nós em termos de negócios na América Latina. O projeto do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Tecnologia Nuclear (CIDTN) em El Alto, Bolívia, está em andamento. Em agosto de 2022, foram postas em operação em caráter piloto as instalações das fases 1 e 2 – o complexo cíclotron radiofarmácia pré-clínica (CRPC) – e o centro de irradiação multiuso. A previsão é que eles entrem em operação comercial num futuro próximo.
O CRPC é destinado para a produção de uma ampla gama de isótopos a serem fornecidos a clínicas médicas da Bolívia para o diagnóstico e terapia de doenças cancerígenas. No total, os radiofármacos obtidos permitirão a realização de ensaios clínicos em mais de 5.000 pacientes por ano. Por sua vez, o centro de irradiação multiuso permitirá o tratamento de produtos agrícolas e alimentícios para garantir sua segurança e prolongar sua vida útil, bem como a aplicação de tecnologia para a esterilização de artigos médicos.
CIDTN permitirá que a Bolívia eleve o desenvolvimento a um novo patamar em vários setores: saúde – produção de radiofármacos para o tratamento do câncer, doenças cardiovasculares e outras patologias; na construção e indústria – envolvimento e desenvolvimento de competências das empresas bolivianas; ciência e educação – treinamento de pessoal altamente qualificado; agricultura – aumento da vida útil e do volume de produção de produtos agrícolas.
Também chegamos a um acordo para elaborar projetos específicos no âmbito do desenvolvimento da cooperação com a Nicarágua e estamos analisando a possibilidade de realizar projetos conjuntos com a empresa argentina Nucleoeléctrica Argentina S.A. (NA-SA).
– O que espera para 2023, com um novo governo? Quais são as perspectivas para o ano que vem?
Esperamos que o setor de energia nuclear no Brasil continue seu desenvolvimento. O governo está tomando sérias medidas para concluir o projeto da usina nuclear Angra 3. Houve também sinais de que o programa nuclear será ampliado mediante a construção de novas unidades de energia, incluindo usinas nucleares de grande, média e pequena potência.
– Quais são as sugestões que daria aos governantes para que os negócios prosperem ainda mais?
De nossa parte, estamos sempre dispostos a compartilhar nossa experiência no desenvolvimento da indústria nuclear russa com nossos parceiros estrangeiros e ficamos felizes em ver como a indústria nuclear está se desenvolvendo no Brasil, que tem mais de cinco décadas. E apenas o desenvolvimento contínuo da energia nuclear poderá contribuir resolver os problemas de segurança energética do país e combater as mudanças climáticas.
Também consideramos importante manter um diálogo com potenciais fornecedores, que poderiam participar na construção de usinas de energia nuclear no Brasil, a fim de desenvolver um modelo de parceria mutuamente benéfico para que o projeto seja efetivamente viável.
O Brasil já está dando passos significativos para desenvolver o setor nuclear, incluindo a medicina nuclear. Neste contexto, o país vem discutindo há muito tempo a construção do reator de pesquisa RMB (Reator Multipropósito Brasileiro), que ajudará a solucionar a questão do fornecimento de isótopos. A Rosatom está interessada em cooperar neste projeto e estamos prontos para expandir e aprofundar a nossa parceria com o IPEN para a produção de produtos radiofarmacêuticos.
Fonte: Petronotícias