Presidente da ENBPar fala do foco para terminar Angra 3 e do futuro do programa nuclear brasileiro

Diretor-Presidente Amazul - Ney Zanella

A Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) está perto de completar seu primeiro ano de vida. Criada no início de janeiro, a nova estatal nasceu para assumir as empresas Itaipu Binacional e Eletronuclear (usinas Angra 1 e 2) após a privatização da Eletrobrás. Em entrevista ao Petronotícias, o presidente da ENBPar, Ney Zanella, comentou sobre esse novo momento da companhia, que passou a abrigar também a Indústrias Nucleares do Brasil (INB). “Estamos independentes do orçamento do Tesouro, ou seja, depende muito mais da nossa capacidade de gerar e investir recursos. Temos que seguir a política do governo, que põe no Plano Nacional de Energia e no Plano Decenal de Energia a expansão de geração elétrica em todas as matrizes”, disse.O presidente da ENBPar falou também sobre a recente retomada das obras de Angra 3 e comentou sobre os esforços para concluir a construção da usina. “O foco é que possamos terminar a construção de Angra 3 no final de 2027 para colocar a planta em operação no começo de 2028”, declarou. Mesmo com a transição no governo federal, Zanella acredita que o Programa Nuclear Brasileiro continuará avançando. “O programa não volta atrás. Felizmente, só tem avançado porque gera emprego e renda. Além do mais, a energia nuclear não pode ser desconsiderada quando falamos de descarbonização”, avaliou.

Essa edição da Atomexpo teve como tema a ‘Primavera Nuclear’, como o início de um novo ciclo, e a ENBPAR dialoga diretamente com isso. Uma estatal recente para o setor no Brasil, que inicia seu ciclo. O que esperar do futuro nuclear brasileiro? Já há bons indicativos como o PDE 2031, o PNE 2050 e a retomada das obras de Angra 3…

A ENBPar é uma empresa, mas o grupo que compõe a ENBPar é um grupo já veterano. Esse grupo é formado pelas empresas Eletronuclear, a INB e Itaipu. As três companhias já têm mais de três décadas. Então, é apenas uma consolidação, uma reorganização do setor nuclear. Isso que nós temos que ter em mente, em foco. Essa reorganização aumenta a sinergia. Estamos independentes do orçamento do Tesouro, ou seja, depende muito mais da nossa capacidade de gerar recursos e investir recursos e temos que seguir a política do governo, que põe no Plano Nacional de Energia e no Plano Decenal de Energia a expansão de geração elétrica em todas as matrizes. Como eu disse aqui, privilegiando aquelas que têm baixa emissão de carbono, renováveis e baixa emissão. No nosso caso, mais focado em hidrelétricas – Itaipu – e na nuclear através da Eletronuclear e da INB.

O senhor falou recentemente sobre a intenção da quarta usina nuclear ser instalada no sítio de Angra dos Reis. Poderia falar um pouco mais sobre esse plano?

O sítio de Angra é um sítio previamente escolhido e pré-licenciado para receber quatro usinas. Isso é o primeiro caminho. Mas o que está em curso no Gabinete de Segurança Institucional, para atender o Plano Nacional de Energia 2050, são os novos setores onde poderão receber energia nuclear. E isso é um assunto bastante transparente, porque vai ser levado ao Congresso, vai ser muito bem estudado por grupos técnicos fortes, tanto pela EPE, como pela universidade e por organismos internacionais. Podemos aproveitar as novas tecnologias que estão pra chegar e que facilitam muito isso, por exemplo, os SMRs [pequenos reatores modulares]. São pouco mais de 80 projetos na Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). É uma tecnologia promissora, que requer pouco investimento, licenciamento mais rápido e mais simples e traz um retorno de investimento a curto prazo muito melhor.

Durante o atual governo a geração nuclear foi destacada, especialmente na gestão do ex-ministro Bento Albuquerque, e agora temos um novo governo eleito. Qual a expectativa? Já houve conversas com o grupo técnico de transição?

Ainda não tivemos uma conversa. Apresentei para o Ministério o nosso programa de transição de governo, mas volto a dizer o que falei na plenária da Atomexpo: o programa nuclear é um programa de Estado. Eu, particularmente, trabalhei para os últimos quatro governos e não quer dizer que mudando o governo pode ter mais ou menos recursos para tocar o projeto. O programa não volta atrás. Felizmente, só tem avançado porque gera emprego e renda. Além do mais, a energia nuclear não pode ser desconsiderada quando falamos de descarbonização. O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, foi enfático em dizer, no Egito (durante a COP27), que não considera uma transição energética sem a participação da energia nuclear na matriz.

Recentes movimentos na estrutura do setor nuclear brasileiro, como o recente controle da INB pela ENBPar, fortalecem o setor e dão mais espaço e segurança para a chegada de atores privados, players internacionais junto à indústria. Quais atividades no Brasil estão no foco de empresas estrangeiras?

Todos os parceiros que se apresentarem serão muito bem-vindos. O que nós temos que fazer é uma concorrência internacional para terminar Angra 3 e isso é transparente. Temos que seguir algumas etapas, definir o preço da tarifa que ainda vai ser estabelecida pelo governo e depois então vamos buscar o capital no mercado, nos bancos. O foco é que possamos terminar a construção de Angra 3 no final de 2027 para colocar a planta em operação no começo de 2028.

Fonte: Petronotícias