Celso Cunha: Está na hora de investirmos na tecnologia nuclear para a matriz elétrica do Brasil

Sabe aquela sensação de estar no lugar certo no momento certo? Mais do que um sentimento, essa é uma certeza quando tratamos do universo energético brasileiro e o papel da energia nuclear. Quando falamos de matriz elétrica é comum apontarem, por exemplo, as energias solar e eólica como mais baratas. Porém, há de se ponderar: as energias renováveis são intermitentes em sua operação, então elas não operam um sistema como o brasileiro sozinhas. Elas precisam do que a gente chama de energia de base, aquela que está sempre ali, pronta para qualquer ocasião.

É impossível garantirmos o volume da demanda de consumo de energia apenas baseados na eficácia de algumas renováveis. E quem garante isso de fato são as hidrelétricas – que, lembremos, têm problemas com a redução de volume de reservatórios, a dificuldade de construir novas estruturas e a crise hídrica – e depois as térmicas, carvão, a óleo, a gás e nuclear. No entanto, recentemente o Poder Legislativo interferiu no planejamento energético do país. Sem consulta prévia, aprovaram uma lei que impõe a construção de dez usinas térmicas a gás em localidades onde não se tem sequer tubulação de gás.

Mesmo tendo um volume de gás muito grande, estamos injetando isso em nossos poços. Mas o nosso gás precisa ser purificado antes de ser usado, e ele tem uma composição que vai exigir um custo muito alto para fazer essa purificação, fora isso, você precisa trazer esse gás para a terra, e construir toda essa malha de distribuição.

A luz pode estar bem antes do fim do túnel. O setor nuclear tem agora a sua grande vedete, a grande aposta de disruptiva mundial na geração de energia que são os SMRs – Small Modular Reactors. Temos de começar hoje, começar agora. Este é o momento e o lugar para investirmos na energia nuclear para que possamos colher os frutos lá na frente.

Os pequenos reatores modulares podem tornar a energia nuclear grande novamente. Como toda nova tecnologia é chamada de ‘first of kind’, ou seja, o primeiro da série, o modelo inicial, e tem por isso um custo mais elevado, mas que chegará a uma curva descendente com certeza. Por isso, já vemos uma corrida do mundo por essa nova tecnologia.

É algo que é muito novo, mas traz série de vantagens: o tempo de construção é muito menor, o risco financeiro é reduzido, porque envolve volumes mais limitados de recursos, e o risco ambiental também é muito menor, já que o setor nuclear é o mais controlado do mundo.

Não se trata de certo ou errado, de apostar tudo em um cenário único ou de negar a utilidade das outras fontes de energia. Todas têm seus prós e contras. A questão aqui é pensarmos onde queremos estar daqui a alguns anos e começar a construir essa história agora, mesmo que devagar, capítulo a capítulo. Vale ressaltar que, com os pequenos reatores, nós temos a possibilidade de construir o que o mundo todo está
correndo atrás. E fazê-lo em território nacional, podemos fornecer o combustível e alavancar com tarifas competitivas. Ou seja, temos urânio para o combustível, é possível construir os reatores por aqui, o custo deles em termos de tarifa e risco é muito menor e ainda podemos exportar para o mundo. Estamos de fato no momento e no local certos!

*Celso Cunha é engenheiro, vice-presidente do Fórum das Associações do Setor Elétrico; dos Conselhos de Energia e Desenvolvimento Econômico da Federação das Indústrias do Estado do Rio

Fonte: O Dia