A Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) completa 35 anos de existência neste dia 27 de outubro em meio a avanços significativos e novos projetos no horizonte. A história da entidade permeia a própria evolução do setor nuclear brasileiro. Quando a associação nasceu, em outubro de 1987, em uma sala comercial da Rua do Carmo, no Centro do Rio de Janeiro (RJ), a indústria nuclear brasileira vivia um momento particularmente desafiador. As obras da usin a Angra 2 estavam paralisadas, por conta da crise econômica que afetava o Brasil no final da década de 1980. Enquanto isso, a usina de Angra 1 ainda sofria com os problemas técnicos que afetaríamos seus primeiros anos de operação. Naquele momento, a ABDAN participou das discussões, sempre propositiva, no sentido de contribuir com sugestões e ideias para superar os obstáculos vivenciados nas usinas. Agora, após mais de três décadas, a entidade se vê novamente diante de outro momento decisivo da indústria nuclear nacional. Com a retomada das obras de Angra 3 cada vez mais próxima e outros empreendimentos importantes ainda em fase de planejamento, a associação se prepara para dar novos passos e ampliar suas contribuições para o fomento do mercado nuclear do país. O atual presidente da ABDAN, Celso Cunha, relembra que a instituição vem passando por um
movimento de fortalecimento e expansão ao longo dos últimos seis anos, ampliando o número de associadas e estabelecendo novas parcerias no âmbito internacional.
O nascimento da ABDAN atendeu a um anseio natural do mercado. O Brasil já possuía uma usina em operação e tinha outra planta em construção, mas ainda não possuía uma entidade representativa que tratasse exclusivamente dos interesses empresariais do setor. O primeiro presidente da associação foi Paulino Cícero de Vasconcelos – que deixou a entidade em 1990 e assumiria, dois anos depois, o Ministério de Minas e Energia durante o governo de Itamar Franco. O quadro de ex-presidentes da associação, em ordem cronológica, conta ainda com os nomes de: Ronaldo Arthur Cruz Fabrício, Manoel Fernando Thompson Motta, Evaldo Cesari de Oliveira e Antonio Ernesto Ferreira Müller. Nos primeiros meses de vida da ABDAN, a instituição reunia cerca de seis empresas. Com o passar dos anos, o número de associados chegou perto de alcançar o patamar de 50 companhias filiadas. Em 2017, porém, ao completar seus 30 anos, a ABDAN ainda estava muito centrada apenas no segmento de geração de energia e, naquele momento, contava apenas com sete associadas.
“Quando assumimos a gestão da ABDAN, em março de 2017, colocamos em prática um trabalho de recuperação da associação, de modo a resgatar o papel da ABDAN no setor nuclear. Além disso, começamos uma ampliação do horizonte de atuação, passando também a reunir empresas de outros dois segmentos importantes – medicina nuclear e irradiação de alimentos”, contou Celso Cunha.
Enquanto fortalecia e expandia a atuação da ABDAN, a atual gestão também passou a marcar presença nos principais fóruns de discussão e decisão do setor de energia do Brasil. A meta era clara: levantar a bandeira da energia nuclear e mostrar os principais atributos da fonte. A primeira grande conquista na esteira desse movimento aconteceu com a publicação do Plano Nacional de Energia (PNE 2050), que indicou de 8 a 10 GW de novas usinas nos próximos 30 anos. Mais recentemente, outro avanço marcante: pela primeira vez na história do planejamento energético brasileiro, a energia nuclear passou a figurar no Plano Decenal de Energia (PDE). Como se sabe, o PDE 2031 foi lançado oficialmente em abril deste ano e indicou a construção de uma planta nuclear de 1 GW até o final da atual década. “A ABDAN realizou debates importantes que culminaram não só com a retomada das obras de Angra 3, mas também com a sinalização da nova usina no PDE 2031. Foi muito importante o papel da ABDAN para mostrar ao planejador energético as vantagens e os atributos dessa fonte”, pontuou Cunha.
Outro importante marco da evolução da ABDAN como entidade representativa foi a participação da associação nas discussões de programas de governo dos candidatos à Presidência da República. Nas eleições de 2018 e de 2022, a associação produziu um estudo para os presidenciáveis com propostas e previsões sobre o setor nuclear. “Estamos sinalizando para os candidatos das eleições deste ano que o segmento nuclear será capaz de movimentar US$ 70 bilhões, com projetos de novas usinas, com o Reator Multipropósito Brasileiro e com o ciclo do combustível”, projetou o presidente da ABDAN.
Enquanto a presença no Brasil se consolida e ganha cada vez mais corpo, a ABDAN passou a ampliar seus laços com instituições internacionais para trocar experiências e conhecimentos sobre as tendências e rumos da tecnologia nuclear. Cunha destaca, por exemplo, os convênios fechados com a World Nuclear Association (WNA), com a Nuclear Energy Institute (NEI) e, mais recentemente, com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Assinada em julho de 2021, a parceria com a AIEA visa à cooperação em áreas de planejamento de energia, operação de longo prazo de usinas nucleares, desenvolvimentos de pequenos reatores modulares, entre outros pontos. “Estamos negociando mais acordos com a AIEA também e, em breve, vamos poder anunciar isso durante a reunião anual da agência, que acontecerá em setembro”, revelou Cunha.
Com seu papel fortalecido nos âmbitos nacional e internacional, a ABDAN passou a organizar os principais eventos da indústria nuclear brasileira. Em seus 35 anos de história, um dos maiores encontros realizados pela entidade foi o World Nuclear Spotlight, em 2018, fruto de uma parceria com a World Nuclear Association. Ainda nesse sentido, a ABDAN passou a realizar, a partir de 2017, o Prêmio Honra ao Mérito Nuclear, de modo a reunir e celebrar os principais executivos e membros da indústria nuclear brasileira em um único evento. Em 2020, mesmo em meio à pandemia, a associação lançou também o congresso internacional Nuclear Trade and Technology Exchange (NT2E), com o foco na geração de negócios. A primeira edição, em formato online, contou com 2 mil participantes de quase 60 países. “As empresas internacionais querem participar dos eventos, enviam seus presidentes e isso vai criando uma sinergia, um processo de colaboração efetiva”, celebrou Cunha.
Por conta de todo esse trabalho de expansão, a ABDAN está atualmente com 29 empresas associadas e esse número deve ser ampliado em breve, com a entrada de mais duas companhias. Por fim, Cunha ressalta a importância dos profissionais precursores que estiveram no comando da instituição e projeta o futuro da ABDAN.
“A todos aqueles que me precederam, a ABDAN faz uma homenagem nesses 35 anos, declarando abertamente que nada surge do nada. Tudo surgiu a partir do processo que foi construído por essas pessoas que ajudaram a construir a história da associação. Olhando adiante, o futuro é colaborativo e será construído com as pessoas e as empresas do setor. Nesse clima de cooperação, a indústria nuclear será cada vez mais forte para atender aos anseios da população brasileira”, finalizou.
Fonte: Revista Conexão Nuclear nº12