O conselho de administração da Eletronuclear, estatal responsável pelas usinas nucleares brasileiras, decidiu alterar a composição da presidência e da diretoria-executiva da companhia. Em reunião na quinta-feira (13), o colegiado escolheu para a presidência da empresa Eduardo de Souza Grivot Grand Court. O executivo ocupa atualmente o cargo de presidente do conselho da estatal e acumula a diretoria de gestão corporativa e sustentabilidade da Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional S.A. (ENBPar).
A ENBPar foi criada no ano passado e, a partir de junho de 2022, passou a controlar a Eletronuclear e Itaipu Binacional no lugar da privatizada Eletrobras. Desde 2017, a Eletronuclear era presidida por Leonam Guimarães, substituído agora por Grand Court.
As mudanças, que entram em vigor em 30 dias, atingiram toda a diretoria da Eletronuclear com exceção de Marcello Cabral, responsável pela área financeira. Foi aprovada a indicação de Ricardo Luis Pereira da Silva como diretor de operação e comercialização. O executivo era diretor técnico da usina de Angra 3, função que vai acumular com a nova diretoria.
A diretoria técnica da Eletronuclear será ocupada por Sinval Zaidan Gama, ex-diretor de Operação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e ex-presidente da Chesf. A diretoria administrativa ficará a cargo do almirante Hélio Mourinho Garcia Júnior, que ocupou o cargo de subsecretário de planejamento, orçamento e administração do Ministério de Minas e Energia (MME). A companhia convocou Assembleia Geral Extraordinária (AGE) para 24 de outubro com o objetivo de revisar o estatuto social e fazer a eleição dos novos membros para os conselhos de administração e fiscal.
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A Eletronuclear não explicou os motivos para as mudanças na diretoria. Fontes disseram que as alterações se explicariam por questões de relacionamento entre o ex-ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e o atual ministro, Adolfo Sachsida. Albuquerque deixou o governo em maio, mas é tido como um especialista na área nuclear e se envolveu nas discussões sobre a estruturação da ENBPar.
Albuquerque disse ao Valor que as mudanças na Eletronuclear eram previstas e que fazem parte do processo de organização da ENBPar. Segundo ele, a permanência de Guimarães não poderia ocorrer porque entraria em conflito com a Lei das Estatais, que exige o exercício de, no máximo, dois mandatos.
Albuquerque negou que as trocas tenham sido resultado de discordâncias com Sachsida: “Minha relação com Sachsida é normal, a melhor possível. De vez em quando nos falamos para que eu possa prestar informações [da gestão no MME] quando necessário”, disse.
A Eletronuclear era subsidiária da Eletrobras até junho deste ano, quando a holding do setor elétrico foi privatizada. Por lei, a operadora de usinas nucleares no Brasil precisa ter controle estatal. Desde então, a companhia passou a ser controlada pela ENBPar, estatal criada para assumir os ativos remanescentes da Eletrobras que não puderam ser privatizados.
Ao todo, o Brasil tem 1,9 gigawatts (GW) de capacidade instalada de geração nuclear a partir das usinas de Angra 1 e 2, no Estado do Rio de Janeiro. Está em construção Angra 3, prevista para entrar em operação em 2027, com potência de 1,4 GW.
Fonte: Valor