Energia nuclear pela eficiência energética no Brasil

Há, em termos práticos, dois tipos de reatores nucleares: reator de potência e reator de pesquisa. O reator de potência utiliza a energia liberada nas reações nucleares para a produção de energia elétrica. O reator de pesquisa utiliza as radiações geradas na reação nuclear para várias aplicações.

A tecnologia nuclear é aplicada em diversos campos da ciência, passando pela agricultura, defesa, indústria, exploração espacial, medicina nuclear, produção de eletricidade, entre outros.

Segundo dados de maio de 2019 da Associação Nuclear Mundial (WNA, na sigla em inglês), existem 447 reatores nucleares de potência em operação no mundo, em 30 países, com capacidade instalada total de 398,154 MWe. Destes, segundo dados da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA, dezembro de 2018), 298 são do tipo Reator de Água Pressurizada (PWR), o mesmo das usinas brasileiras Angra 1 e 2, com capacidade total de 282.443 MW, o que corresponde a cerca de 66% da capacidade instalada mundial.

De acordo com o relatório Electricity Information, publicado pela International Energy Agency, os reatores nucleares foram responsáveis por 10,4% da produção de energia elétrica no mundo. As usinas térmicas convencionais (carvão, combustíveis líquidos e gás natural) contribuíram com 65,1% da geração total; as usinas hidrelétricas, 16,6%; e a geração de energia por fontes renováveis totalizaram 5,6%. ¹

As fontes de urânio já identificadas são suficientes para suprir de 60 a 100 anos de operação das usinas existentes no mundo e ainda os cenários de maior expansão previstos até 2035 pela AIEA. As reservas conhecidas estão atualmente em mais de cinco milhões de toneladas e o Brasil é um dos maiores produtores.²

Dados de 2015 demonstram que o Brasil se encontrava no 7º lugar no ranking de reservas de urânio conhecidas com 291.500 ton., quantidade essa equivale a 5% das reservas mundiais.

No Brasil a Energia Nuclear ocupa 1,3% da geração total de energia elétrica, com 2 (dois) reatores em operação e um reator em construção. Ainda existem mais 4 (quatro) reatores de pesquisas em funcionamento e mais dois em construção. Sendo 1 (um) reator protótipo em terra para teste do que será o primeiro submarino convencional de propulsão Nuclear Brasileiro e 1 (um) Reator Multipropósito Brasileiro, que será responsável pela produção de radioisótopos para mais de 30 diferentes tipos de radiofármacos, com possibilidade imediata de dobrar o número de procedimentos anuais em medicina nuclear, garantindo estabilidade no fornecimento de radioisótopos e economia de mais de 15 milhões de dólares por ano com custos de importação.

O Reator Multipropósito Brasileiro é um reator de pesquisa com diversas finalidades: produção de radioisótopos para uso na medicina e na indústria; teste de materiais e combustíveis nucleares para reatores de potência; utilização de feixe de nêutrons para pesquisa científica e tecnológica em diferentes campos da ciência; análise por ativação neutrônica; produção de traçadores para aplicação em pesquisas na agricultura e meio ambiente; formação na área nuclear; e treinamento de pessoal para operação e manutenção de reatores de potência.

Somadas, as duas usinas nucleares em operação hoje no Brasil, geram 1.990 megawatts, que equivale a 40% do consumo do Estado do Rio de Janeiro, e 3% do consumo do país. Quando Angra 3 entrar em operação, a energia nuclear responderá por cerca de 70% da eletricidade consumida no estado, isso é, perto do percentual de geração de Energia Nuclear da França que é 77,7% da matriz energética, sendo o país com maior percentual no mundo.

As principais preocupações em torno da Energia Nuclear são segurança, gerenciamento de resíduos e despesa total. Ao contrário da crença popular, a Energia nuclear está entre as mais seguras atualmente em uso. 

Em 27 de junho de 1954, a usina nuclear de Obninsk se tornou a primeira usina nuclear ligada a rede elétrica de algum país começando a operar na cidade soviética de Obninsk. Hoje são 447 reatores nucleares em funcionamento, ² já se passaram 67 anos e só tivemos 3 (três) acidentes em usina nuclear. O primeiro em THREE MILE ISLAND II 1979 sem vítimas. O segundo em Chernobyl IV em 1986, onde a Organização das Nações Unidas (ONU) estima que 50 mortes podem ser diretamente atribuídas ao desastre. Em 2005, previa-se que 4 mil poderiam eventualmente ter morrido como resultado da exposição à radiação. A Abt Associate estimou que a poluição por partículas finas das usinas a carvão existentes nos Estados Unidos, deveria causar quase 13.200 mortes em 2010. Impactos adicionais incluíam cerca de 9.700 hospitalizações e mais de 20.000 ataques cardíacos por ano.³

Em 1975, cerca de 30 represas no centro da China falharam em uma curta sucessão devido a severas inundações, cerca de 230 mil pessoas morreram. Com o número de vítimas deste único evento, as fatalidades da energia hidrelétrica excedem em muito o número de mortes de todas as outras fontes de energia.⁴

Centrais Nucleares SMR – Small Modular Reactor, são ainda mais seguras, alguns modelos possuem sua zona de influência em possíveis acidentes, tão pequenas que só atingem a própria área da central nuclear.

Quanto ao Gerenciamento dos Resíduos, existem duas opções principais que são utilizadas atualmente: contenção e reprocessamento. A Contenção é o armazenamento de combustível exaurido em recipientes secos e seguros, onde permanecerão por muito tempo. O Reprocessamento, mais caro, trata os resíduos para que possam ser usados novamente em um reator. No entanto, esse processo é praticado em apenas 5 (cinco) países, porém o Brasil está negociando acordo de transferência de tecnologia, que poderá colocar o Brasil nesta lista.

Por último, os custos da Energia Nuclear que vêm da construção e regulamentação das usinas, que podem ser diluídos pelo baixo custo de produção da energia de fonte Nuclear e pelo ciclo de vida das Centrais Nucleares. Além disso, tecnologias de SMRs poderão diminuir ainda mais este custo por terem baixo custo de construção.

Estudo apresentado pela Eletronuclear em parceria com a FGV, deixa claro que o investimento em Angra 3 não trará apenas benefícios energéticos, mas também econômicos. A cada R$ 1 investido no projeto, são gerados um efeito multiplicador de 2,28 no PIB nacional. Os benefícios atingem o Rio de Janeiro – para cada R$ 1 em valor adicionado diretamente pelo projeto de Angra 3, o PIB do estado recebe um efeito multiplicador de 1,57.⁵

A cadeia produtiva do setor nuclear movimenta, anualmente, recursos da ordem de US$ 250 bilhões em escala global, considerando desde a etapa inicial de mineração do urânio até a produção de energia elétrica nos reatores de potência.⁵

Em 06.07.2022 o Parlamento Europeu avalizou a decisão da Comissão Europeia que permitiu investimentos em usinas nucleares como Energia Verde. O que justifica essa mudança de posição é o grau de segurança com que as usinas nucleares atuais, operadas no ocidente, em relação às antigas Usinas do Leste Europeu. Essa decisão será um gatilho para o crescimento da energia nuclear na Europa, e o Brasil não pode ficar para trás mais uma vez na História.

A Energia Nuclear no Brasil precisa ter uma política de Estado e deixar de sofrer influência de política de governo, precisa ser criado subsídios legislativos que torne isso possível.

Fonte: Ângulos/CREA-RJ