Defesa olha para eleição e não vê a inanição de projetos estratégicos

Depois cinco governos e 14 anos de planejamento, está se dissolvendo a equipe de cientistas responsável pela construção do maior reator nuclear brasileiro de pesquisa, que garantiria a autossuficiência do país na produção de radioisótopos — essenciais ao diagnóstico e tratamento de câncer.

O motivo é inanição financeira. O reator teria potência máxima de 30 Megawatts e custaria US$ 2,7 bilhões em dez anos. O gasto anual seria equivalente a R$ 270 milhões — 67% menor, por exemplo, que o valor das verbas federais enviadas a prefeitos do Piauí via emendas parlamentares no orçamento paralelo.

O fluxo de dinheiro é insuficiente, declinante de 2008 e sequer existe previsão no orçamento público de 2023.

O que era mínimo, acabou sem previsão orçamentária e estimulou o êxodo na equipe de cientistas. Um deles, o engenheiro José Augusto Perrota desistiu depois de uma década na coordenação técnica do plano. Achou melhor se aposentar.

A inanição financeira desse projeto representa uma situação crítica para a saúde pública, porque uma das finalidades era a autonomia nacional na produção de radioisótopos. Eles são básicos na produção de medicamentos do tipo radiofármacos dos quais dependem pelo menos dois milhões de pessoas em tratamento de câncer. É crescente a dependência brasileira das importações desses insumos, principalmente de molibdênio-99, matéria-prima do radioisótopo (tecnécio-99m) mais utilizado na medicina nuclear.

O reator é do tipo multiuso, fundamental para testes de combustíveis para usinas nucleares, semicondutores e materiais estruturais em projetos militares. Está vinculado à Marinha, responsável pelo programa nuclear.

Concentrado nas eleições, o Ministério da Defesa acabou abstraindo projetos que as Forças Armadas classificam como “estratégicos” mas se encontram ameaçados pela inanição financeira, como é o caso do reator nuclear de pesquisa.

Semana passada, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara promoveu um debate sobre os projetos militares mais relevantes. O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, participou, mas achou melhor focar nas críticas ao sistema de votação eletrônica, em coro com o seu chefe, Jair Bolsonaro, candidato à reeleição.

Fonte: Veja