O setor nuclear elaborou um estudo para mostrar aos candidatos a presidente do País o potencial que a tecnologia possui, não apenas para a geração de energia, mas também para segurança alimentar e medicina. Com a sétima maior reserva de urânio do mundo, e com potencial de subir nesse ranking com mais exploração do mineral, a associação do setor, Abdan, responsável pelo documento, destaca que o avanço depende de investimentos, em grande parte do governo, flexibilização regulatória e melhor arranjo dos processos produtivos.
Somente na construção de novas usinas previstas no Plano Nacional de Energia 2050 (PNE 2050), que estima a adição entre 8 e 10 gigawatts (GW) de energia nuclear no País, os investimentos, se houver flexibilização das regras, podem atingir entre US$ 56 bilhões e US$ 70 bilhões.
O estudo destaca que a tecnologia nuclear está crescendo globalmente em aplicações para a energia elétrica – 55 reatores estão sendo construídos no mundo -, medicina nuclear, irradiação de alimentos, propulsão (submarinos) entre outras. Para aumentar a mineração e beneficiamento do urânio, por exemplo, a proposta é de permitir a atuação do setor privado, o que poderia gerar divisas de US$ 20 milhões por ano com exportações do mineral, além de aumentar a produção de insumos para fertilizantes, já que o urânio muitas vezes é encontrado associado a outros minerais usados na agricultura. Também é sugerido que à iniciativa privada seja permitida a atuação na conversão e enriquecimento de urânio.
A Abdan considera a entrada do setor privado também na construção de usinas nucleares. Segundo o estudo, a participação privada na construção de Angra 3 e na extensão da vida útil de Angra 1 e 2, em Angra dos Reis, e a construção das novas usinas, seriam beneficiadas pela flexibilização do marco regulatório. Para justificar a expansão, o estudo destaca que o custo da energia nuclear pode ser cinco vezes menor do que a gerada pelas usinas a gás, e que além de ser uma energia não poluente, aumenta a segurança do sistema energético brasileiro.
O documento prevê que entre 2023 e 2026 serão feitos investimentos de R$ 20 bilhões para a usina Angra 3 – cujas obras estão para serem retomadas em agosto deste ano; R$ 3,3 bilhões para a extensão da vida útil de Angra 1; e mais R$ 2 bilhões para a modernização de Angra 2, gerando 9 mil empregos.
Já entre 2027 e 2030, com maior estímulo ao setor, seriam realizadas a modernização de Angra 2 e a primeira usina de 1 GW previsto no PNE 2050. De 2030 a 2050 seriam inauguradas mais usinas de 1 GW, totalizando 8 GW e somando investimentos de US$ 56 bilhões, ou US$ 7 bilhões por unidade.
A análise indicou a necessidade de pesquisa para instalação de mini reatores nucleares, que começam a surgir agora na Europa, e estímulo para o conceito de “cluster tecnológico nuclear”, para impulsionar toda a cadeia industrial que atende o setor e atrair inovações e profissionais para a área.
Na área médica, o documento vê necessidade de regulamentação e implementação adequada da flexibilização do monopólio governamental na produção de radiofármacos – já em andamento no Congresso – , o que poderá ampliar o acesso a serviços médicos com custo menor de aquisição pelo SUS. A proposta é que a partir de 2030, o País substitua as importações de radioisótopos primários, com produção interna a custo menor, além de maior capacidade de autossuficiência destes insumos. É solicitado que, em paralelo, que sejam feitas ações para estimular a pesquisa e formação de profissionais dedicados a essa tecnologia.
Já na alimentação, o estudo aponta que com o aumento de investimentos para aquisição de equipamentos de radiação por parte de empresas e cooperativas setoriais, poderia se obter redução de perdas da ordem de 30% dos alimentos, maior proteção contra barreiras não tarifárias, abertura de novos mercados para o agronegócio brasileiro e maior segurança na conservação dos alimentos. Para isso, o estudo aponta a necessidade de uma política de financiamento para aquisição desses equipamentos e ações/campanhas para o benefício da irradiação nos diversos setores produtivos.
“A análise realizada neste documento procurou mostrar que o Brasil tem uma história (nuclear) e uma base produtiva que permite o avanço e a consolidação do País como grande player no cenário mundial da tecnologia nuclear”, conclui o estudo, ressaltando que este avanço depende da execução de planos de investimentos onde o Estado brasileiro tem um papel primordial.
Fonte: Broadcast