O anúncio de que a região Sudeste será o destino da quarta usina nuclear brasileira, conforme previsto no Plano Decenal de Energia 2031, aumentou a expectativa de que o Rio de Janeiro possa, de fato, ser o local escolhido para abrigar a nova planta. Os fatores a favor do estado são muitos, como a presença de duas usinas em operação e uma terceira em construção e o fato de que o Rio abriga grandes empresas atuantes no setor nuclear. No mercado, já há quem defenda a escolha pelo Rio. E agora, esse movimento em favor do estado passa a ganhar corpo também na esfera legislativa. O parlamentar Júlio Lopes (PP-RJ), que exerceu mandato como deputado federal até março e vai tentar uma nova cadeira na Câmara nas eleições de outubro, quer contribuir nos esforços para atrair a nova usina nuclear para o estado. “O Brasil deve delegar ao Rio de Janeiro essa possibilidade. Não estou dizendo que não devemos desenvolver outros parques nucleares nos demais estados. Acho, inclusive, que o Brasil fará isso. Por agora, faz todo sentido ter essa quarta usina aqui no Rio”, disse Lopes. O entrevistado afirma também que é preciso demonstrar no Congresso Nacional que trazer a quarta usina para o Rio trará muitos benefícios para o estado e o país como um todo. “Eu, enquanto político, quero mobilizar muito a sociedade para entender o quanto é oportuno e importante trazermos a quarta usina do Rio de Janeiro. Eu vejo que para o Brasil obedecer aquilo que foi estabelecido no Plano Nacional de Energia (PNE), precisamos que a quarta usina seja construída no Rio de Janeiro”, concluiu.
Ao seu ver, como a energia nuclear pode desempenhar um papel indutor de desenvolvimento no estado do Rio de Janeiro?
O mundo está buscando novas fontes de energia que sejam sustentáveis e que gerem bastante energia, até mesmo em função desse problema da guerra entre a Ucrânia e a Rússia. A energia nuclear, por sua vez, possui essas duas características. O Rio de Janeiro já tem duas usinas nucleares e uma terceira ainda em conclusão. O ideal é que o estado se prepare e se organize para receber também a quarta usina, anunciada no último Plano Decenal de Energia 2031. Inclusive, essa nova usina poderia ficar no mesmo sítio das três anteriores, visto que um novo reator seria bem menor.
Os brasileiros não conhecem muito, mas as usinas nucleares sediadas no Rio são baseadas em um projeto extraordinário dos alemães. Essas unidades têm performado, sistematicamente, com 110%-115% da sua capacidade ao longo de muito tempo. Elas superam, na média, a capacidade prevista de instalação de funcionamento em termos de geração de energia. As usinas de Angra dão uma contribuição enorme não só para o país, com potencial energético, mas também para o estado, em termos de arrecadação. Então, vejo que uma possível quarta usina trará um benefício enorme para o Rio.
A escolha de um sítio para uma nova usina nuclear, claro, leva em consideração muitos aspectos técnicos. Mas, olhando do ponto de vista político, qual o caminho para trazer essa quarta usina brasileira para o estado do Rio de Janeiro?
Recentemente, eu estive com o presidente da ABDAN, Celso Cunha, e conversamos bastante sobre o tema. Eu, enquanto político, quero mobilizar muito a sociedade para entender o quanto é oportuno e importante trazermos a quarta usina do Rio de Janeiro. Eu vejo que para o Brasil obedecer aquilo que foi estabelecido no Plano Nacional de Energia (PNE), precisamos que a quarta usina seja construída no Rio de Janeiro. Eu tenho acompanhado, sistematicamente, aqui no Rio, investimentos em grandes shoppings e indústrias. Se tivermos um boom de desenvolvimento ao Brasil, nós não teremos a energia necessária para tocar o país. Temos visto também, nos últimos anos, os problemas nos reservatórios das hidrelétricas, que estão sempre sob a influência do clima. Por isso, o país está recorrendo cada vez mais às térmicas, que custam mais caro.
A energia nuclear, por sua vez, é uma fonte permanente que não está sujeita a intempéries nem a mudanças climáticas. É uma energia de alta capacidade e muito segura. Eu, como parlamentar, estou fazendo um esforço grande em prol da fonte. Inclusive, estou mobilizando-me para propor um livro, que vai tratar do programa nuclear que seria desejável para o Brasil.
Eu tenho conversado, sempre que possível, com o governador [Claudio Castro] para que inclua em seu programa de governo um apoio importante para que Angra 3 seja finalmente concluída, dentro de um prazo mínimo. Eu também tenho sugerido que o estado possa desenvolver tudo o que for possível para termos uma usina de Angra 4.
Um tema sempre muito pertinente quando falamos de uma usina nuclear é a aceitação pública. Por isso, quais argumentos poderiam ser usados para convencer a sociedade, como um todo, de que devemos realizar esse investimento no Rio?
Um dos países na Europa que mais se preocupa com a questão da sustentabilidade é a França. O governo francês anunciou recentemente que vai retomar os seus planos para novas usinas nucleares. É um plano muito agressivo para que o país seja capaz de atender sua demanda energética. A própria comunidade europeia, como um todo, têm cada vez mais apostado na retomada das usinas nucleares como uma alternativa importante para a sustentabilidade da área elétrica.
Observando esse movimento, podemos ver que há uma imensa oportunidade para o Rio de Janeiro optar por uma quarta usina nuclear. Essa escolha trará alguns imensos benefícios. Aqui no Rio de Janeiro não será preciso criar novas infraestruturas. O estado já tem a Nuclep, a INB e a própria Eletronuclear. Então, tudo ficaria mais fácil e mais simples para ser executado em menor prazo e com o menor custo. O que nós temos que fazer no Congresso Nacional é demonstrar à sociedade brasileira e ao Rio, em especial, que trazer a quarta usina para o estado vai trazer muito benefício e melhores custos para o país.
Eu estou bastante convicto de que o Rio de Janeiro deve fazer de tudo para atrair essa quarta usina. O Brasil deve delegar ao Rio de Janeiro essa possibilidade. Não estou dizendo que não devemos desenvolver outros parques nucleares nos demais estados. Acho, inclusive, que o Brasil fará isso. Por agora, faz todo sentido ter essa quarta usina aqui no Rio.
A indústria nuclear tem concentrado esforços no desenvolvimento de pequenos reatores modulares (SMRs). Dada a vocação do Rio de Janeiro para a fonte nuclear, o senhor acredita que nosso estado também poderá, no futuro, sair na frente no uso de tecnologia?
Em função de já termos o parque nuclear aqui no Rio de Janeiro, acho que deveríamos pegar todo o nosso esforço para tentarmos desenvolver esses pequenos reatores menores e, eventualmente, implantar essa tecnologia em Angra 4 ou mesmo em outras áreas do estado.
Os SMRs possuem menor porte, causam menos impactos e demandam menores custos. É uma energia ininterrupta, constante e limpa. Ao contrário das demais energias limpas, tanto a eólica quanto ao solar, têm muitas intempéries devido a fatores climáticos. Os próprios reservatórios das hidrelétricas também sofrem com as poucas chuvas.
Com as pequenas usinas nucleares seria possível vencer esses problemas, garantindo estabilidade de fornecimento do setor elétrico e com custo muito menor do que o da geração térmica. Eu vejo que a implantação dessas usinas de menor porte é estratégica para o Brasil e ainda mais para o Rio de Janeiro. Precisamos estudar muito essa nova modalidade aqui no Rio de Janeiro.
Fonte: Petronoticias