O presidente da Indústrias Nucleares do Brasil – INB, Carlos Freire Moreira, mediou um painel durante o último dia da Nuclear Summit 2022, conferência realizada pela ABDAN, em parceria com a World Nuclear Association e a Agência Internacional de Energia Atômica, e apresentada pela Eletronuclear.
Com a temática Mineração e Combustível, o painel mediado por Freire contou com a presença do diretor de Produção do Combustível Nuclear da INB, Márcio Adriano Coelho, da secretária Adjunta da Secretaria de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia, Lilia Mascarenhas Sant’Agostino, do diretor de Geologia e Recursos Minerais do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), Márcio Remédio, e também dos convidados internacionais: o vice-presidente de Vendas e Marketing da URENCO, Magnus Mori, e o vice-presidente de Marketing da CAMECO, David Doerksen.
Foi unanimidade entre os participantes que a energia nuclear tem papel fundamental na transição para a descarbonização, o processo de redução de emissões de carbono na atmosfera, especialmente de dióxido de carbono (CO2). A mudança em escala global, no entanto, gera grandes desafios para as empresas do setor, que precisarão se adaptar para atender às novas demandas do mercado, que incluem o crescimento no número de reatores avançados e dos Pequenos Reatores Modulares (SMR – Small Modular Reactors, em inglês) ao redor do mundo nos próximos anos.
A disponibilidade de matéria-prima, no caso, o urânio, foi um dos desafios relacionados durante as discussões, que levaram em conta o cenário geopolítico atual e o fato de grande parte das reservas do minério na Europa estarem em território russo. Apesar da seriedade da questão levantada, acredita-se, de acordo com os presentes, que a capacidade produtiva brasileira não será afetada, considerando o país entre os dez com maiores recursos de urânio no mundo, tendo apenas 30% de seu território prospectado. O objetivo dos órgãos responsáveis, segundo Márcio Remédio e confirmado por Lilia, é que o Brasil, em breve, possa produzir concentrado de urânio (U3O8) não apenas para atender Angra 1, 2 e 3, mas também para exportar o material sobressalente.
Os planos citados pela secretária foram em consonância com a fala de Márcio Adriano em relação à visão de futuro que existe para a INB e o ciclo brasileiro de energia nuclear. De acordo com o diretor de Produção do Combustível Nuclear da empresa, espera-se que, em 2027, Angra 3 esteja operando comercialmente com recargas anuais, já que no momento, a INB trabalha na produção do primeiro núcleo do reator.
“Está prevista também para 2027 a possibilidade de uma nova tecnologia de elementos combustíveis: o Combustível Tolerante a Acidentes (ATF – Accident Tolerant Fuel, em inglês), que foi desenvolvido para evitar incidentes como o de Fukushima, no Japão, em 2011”, revelou o diretor.
Márcio destacou ainda a necessidade de a empresa estar preparada para atender as demandas que podem surgir nos anos seguintes, como a instalação de uma nova usina nuclear brasileira em 2031 e a previsão de SMRs em diversos pontos do país.
“Existe a previsão de que, em 2035, não haverá oferta suficiente de conversão para atender à demanda do mercado. Para isso, juntamente à Marinha do Brasil, estamos cooperando em um projeto conceitual de uma planta piloto para podermos realizar pelo menos parte da etapa de conversão no Brasil”, disse, acrescentando que, em relação ao enriquecimento de urânio, até o final deste ano, a INB terá dez cascatas em funcionamento, enriquecendo 70% do material necessário para as recargas de Angra 1. O projeto de expansão da planta, no entanto, visa entregar o total de 30 cascatas, permitindo assim, realizar nas instalações o enriquecimento de 100% do urânio que irá compor as recargas de Angra 1, 2 e 3.
O Nuclear Summit 2022 abordou ainda temas como taxonomia verde, oportunidades de negócio, a presença de mulheres no setor, regulação e licenciamento, além de trabalhar em diversas frentes assuntos relacionados aos SMRs. O evento foi idealizado e realizado pela Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares – ABDAN em parceria com a World Nuclear Association (WNA) e a AIEA.
Fonte: INB