ABDAN vai à Brasília para viabilizar nova usina nuclear e prepara proposta para presidenciáveis

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A Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) foi uma das entidades que participaram do lançamento do Plano Decenal de Energia (PDE) 2031, em Brasília. O documento foi particularmente importante para a indústria nuclear brasileira. Pela primeira vez, o planejamento nacional passou a indicar a construção de uma planta nuclear no horizonte decenal. Aproveitando a viagem à capital federal, o presidente da associação, Celso Cunha, está com uma agenda de reuniões com o Ministério de Minas e Energia e com o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) para tratar justamente dos caminhos para viabilizar a construção dessa nova usina. “Aproveitamos o momento para discutir uma série de tópicos, como escolha de novos sites e o próximo PDE 2032”, detalhou Cunha. “O setor começa a sair do campo de ideias e parte para o campo da materialização. Precisamos agora definir o local da planta e a tecnologia que vai ser adotada”, acrescentou. Outros tópicos que estão sendo levantados nesses encontros são a criação da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN) e o fomento à produção de combustível nuclear. “O Brasil tem a nona maior reserva de urânio. O CPRM está fazendo estudos sobre outras possibilidades de jazidas. Isso está avançando e coloca o Brasil como um grande player na posição de venda de combustível. Precisamos avançar com essa pauta”, avaliou. O presidente da ABDAN também revelou que a associação está preparando um conjunto de propostas do setor nuclear que será enviado em breve para os candidatos à Presidência da República.

Gostaria de começar nossa entrevista pedindo uma avaliação sobre o PDE 2031, lançado neste semana pelo governo. Como o setor nuclear recebeu a apresentação da versão final do documento?

Lançamento do PDE 2031

Foi uma conquista extremamente importante ter, nesse momento, o PDE já sinalizando a primeira usina dentro daquela meta de oito a dez usinas previstas no Plano Nacional de Energia (PNE) 2050. Saímos do planejamento de longuíssimo prazo para o planejamento mais prático e executivo. A nova usina indicada no PDE 2031, de 1 GW, ficará no Sudeste do país. O governo fez uma opção de colocar esse 1 GW no centro de carga do país.

A Empresa Brasileira de Participações em Energia Nuclear e Binacional (ENBPar) e a Eletronuclear vão ter um papel importante pela frente para tocar esse projeto adiante. O setor começa a sair do campo de ideias e parte para o campo da materialização. Precisamos agora definir o local da planta e a tecnologia que vai ser adotada para essa nova usina.

Por falar em escolha de local para essa usina, o próprio PDE 2031 traz uma nota de rodapé que aponta que a seleção de sítio é um dos desafios que precisam ser superados para viabilizar essa nova planta. Como avançar com essa questão?

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O estudo de sítios precisa ser contratado. Já existe um estudo antigo pronto. Eu acho que, de forma muito prática, em uma leitura de engenharia, o país deveria buscar, dentre os sites que já estão escolhidos, aqueles que dispõem de mais informações. Isso pode acelerar a execução. O ideal é conseguir fazer com que essa primeira usina saia do papel rapidamente. Buscar a melhor solução dentro dos estados do Sudeste, com o maior volume de informações sobre o site, é fundamental.

A tecnologia também precisa ser definida. Vamos usar uma tecnologia como a existente em Angra ou buscaremos uma nova? Ou, talvez, já devemos partir para um pequeno reator modular (SMR)? É preciso fazer essa escolha. O SMR demanda um menor tempo de construção. Contudo, surge o desafio do licenciamento. O processo de licenciamento brasileiro não prevê ainda a questão dos SMRs. Então, essa é a grande questão.

Tirar essa nova usina do papel certamente será a prioridade do setor nuclear. Mas o senhor vê outras questões que também precisam ser endereçadas?

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Acho que é importante resolver a questão da Autoridade Nacional de Segurança Nuclear (ANSN). Já foi aprovada uma lei que cria esse órgão. Contudo, ainda é necessária toda uma regulamentação. Isso precisa sair do papel. Esse assunto já foi muito discutido desde de 2009. O Congresso já debateu e decidiu, o que precisamos agora é colocar essa pauta adiante. Do contrário, o Brasil ficará numa situação muito ruim perante à comunidade internacional. Seja o caminho que for, a ANSN tem que sair do papel esse ano ainda. Como licenciar novas usinas sem essa autoridade? Isso precisa caminhar. 

Poderia falar também sobre a agenda de reuniões da ABDAN em Brasília? Quais são os temas em discussão?

Aproveitamos o momento para discutir uma série de tópicos, como a escolha de sites e o próximo PDE 2032. Outra pauta muito importante é a mina de Santa Quitéria, no Ceará. O mundo está precisando de combustível nuclear e nós dominamos a tecnologia. Como já disse em outra oportunidade, o Brasil precisa parar com essa mentalidade de vender apenas commodities. Temos aqui uma oportunidade de vender combustível com valor agregado.

É preciso lembrar-se do contexto internacional. A China anunciou 150 novos reatores em 15 anos. A Inglaterra anunciou mais nove, a França planeja outras nove unidades, além dos Estados Unidos, que também mais alguns reatores. Estamos falando de mais de 200 reatores anunciados no pós-COP26. Isso significa que o mundo vai aumentar a demanda por combustível. O Brasil tem a nona maior reserva de urânio. O Serviço Geológico do Brasil (CPRM) está fazendo estudos sobre outras possibilidades de jazidas. Isso está avançando e coloca o Brasil como um grande player na posição de venda de combustível. Precisamos avançar com essa pauta. 

Nesse sentido, a ABDAN terminou de produzir um documento com propostas do setor produtivo para o segmento nuclear. Esse conjunto de sugestões será entregue aos candidatos que disputarão a Presidência da República nas eleições de outubro deste ano. Vamos divulgar esse material em breve.

Fonte: Petronotícias