Pequenos reatores nucleares em pauta

O interesse do Brasil em incluir em sua matriz os chamados pequenos reatores nucleares foi um dos temas tratados na conversa entre Jair Bolsonaro e o presidente russo, Vladimir Putin.

A Rússia, por meio da multinacional Rosatom, é um dos grandes players da indústria nuclear e disputa mercado com empresas dos Estados Unidos, Reino Unido, França e China, entre outros. Diversas empresas desenvolvem atualmente projetos relacionados a esses pequenos reatores.

A ideia de introduzir pequenos reatores nucleares no Brasil, para geração de energia elétrica, já havia sido mencionada no ano passado pelo ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, em um evento promovido pela própria Rosatom.

Na ocasião, o ministro disse que o momento era promissor para a consolidação da energia nuclear no Brasil e que isso “implicará na construção de novas usinas que podem ter reatores clássicos ou pequenos reatores nucleares, uma opção para produção de energia com baixa emissão de carbono”.

Na quarta-feira, logo depois da reunião, Bolsonaro – ao lado de Putin – afirmou jornalistas que entre os pontos tratados na reunião bilateral esteve o tema da energia e de mais negócios nas áreas de gás, petróleo e derivados. E acrescentou: “Desejamos aprofundar o diálogo de alto nível em temas como exploração de águas profundas e hidrogênio. Temos interesse nos pequenos reatores nucleares modulares.”

Ao Valor Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira de desenvolvimento nuclear (Abdan) afirmou: “Existem mais de 70 projetos de pequenos reatores nucleares no mundo em diferentes fases de desenvolvimento e essa é uma tecnologia que podemos considerar disruptiva”.

Ele cita que os projetos de “small modular reactors” (SMR) apresentam como vantagens o fato de demandarem menos investimentos, de poderem ser produzidos em série, de serem transportáveis, de permitirem de forma mais rápida do que o que reatores tradicionais uma injeção maior de potência de energia. E que poderão ser usados como fonte de eletricidade tanto em locais distantes quanto até por indústrias.

Carlos Henrique Mariz, presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben), lembra que a Rússia é um dos países com tecnologia desenvolvida nessa área e que se destaca também em projetos de reatores embarcados em navios especiais.

Pequenos reatores têm, em geral, potência de até 300 MW. O Brasil – a partir das usinas Angra 1 e Angra 2 – tem 1,9 GW de capacidade instalada de geração nuclear.

Em novembro, o presidente da Eletronuclear, subsidiária da Eletrobras responsável pela operação das usinas nucleares de Angra dos Reis, Leonam Guimarães mencionou a ideia de pequenos reatores modulares como um movimento tecnológico que acontece no mundo todo. E que no Brasil essas usinas poderiam ser usadas para levar eletricidade a regiões isoladas na Amazônia ou para, em grupos, ajudar a garantir o suprimento de energia em outras áreas.

Do ponto de vista da indústria russa, o interesse brasileiro nesses módulos nucleares parece ser a oportunidade mais clara de negócios no momento.

Além dos pequenos reatores, Bolsonaro citou o projeto brasileiro de submarino nuclear como um dos assuntos que estiveram na pauta com Putin. Liderado pela Marinha do Brasil, o projeto vem sendo desenvolvido há vários anos. É a Marinha que tem desenvolvido a tecnologia do propulsor nuclear do projeto. A França é um dos parceiros envolvidos no empreendimento.

Fonte> Valor