O lendário projeto de exploração de urânio em Santa Quitéria, no interior do Ceará, está perto de, enfim, dar um passo crucial para sair do papel. O licenciamento ambiental para a usina de Itataia pode sair até o fim de fevereiro. Essa é a expectativa do Consórcio Santa Quitéria, formado por INB (Indústria Nucleares do Brasil) e Galvani.
O diretor técnico do projeto, Ricardo Neves, que também é diretor-presidente da Galvani, empresa do setor de fertilizantes, informou que o Estudo de Impactos Ambientais (EIA) já foi aprovado e o Relatório de Impacto Ambiental (Rima) está em revisão, devendo ser liberado ainda neste mês pelo Ibama.
O processo deve passar ainda por audiências públicas e, só depois, deve ocorrer a liberação pelo Ibama, caso o órgão ambiental dê realmente anuência.
LEIA MAIS
VICTOR XIMENESApós retomada da produção de urânio no Brasil, Projeto Santa Quitéria é peça-chave para o GovernoEGÍDIO SERPAFertilizantes: Esqueceram o urânio fosfatado de Itataia
Essa etapa marcará uma aceleração do empreendimento, que não logrou avanços significativos nos últimos anos. A mineração de urânio no Estado é um desejo antigo, com as primeiras empreitadas datadas da década de 1980.
O cronograma prevê, já para 2022, a obtenção da licença prévia e da licença de instalação, necessárias ao início da implementação do projeto de energia. O pontapé inicial das operações deve ocorrer em 2024/2025.
GERAÇÃO DE EMPREGOS
Serão gerados 2.800 empregos na obra e 2.300 empregos na operação. Quando em plena atividade, a usina será responsável por formar uma massa salarial de R$ 100 milhões por ano.
Neves destaca a importância que a exploração do urânio terá para o agronegócio e no comércio exterior do Brasil.”O impacto na balança comercial será muito relevante. O agronegócio deixará de importar os fosfatados, com destaque para os fertilizantes e insumos para a alimentação animal. Isso é uma vantagem estratégica. Hoje, para se ter ideia, o setor importa 90% dos fertilizantes”, explica.
Edmundo Ribeiro, chefe de assessoria corporativa de licenciamento ambiental e nuclear do INB, afirma que o projeto “coloca o Ceará em posição de destaque mundial como grande produtor de urânio”.
ESTRATÉGIA NUCLEAR
O projeto de Santa Quitéria é central no plano estratégico de retomada da produção de urânio no País. No fim de 2020, após um hiato de cinco anos, a exploração foi reiniciada na Bahia, em Caetité.
O potencial de Santa Quitéria, no entanto, é quatro vezes superior ao da mina baiana. Na Bahia, a produção inicial é de 270 toneladas de urânio por ano e deve crescer para 400t; já em Santa Quitéria a partida é de 1.500 toneladas de urânio anuais.
A exploração do urânio e fosfato no Ceará terá duas plantas industriais, uma delas para dissociação dos minerais e preparação do fosfato, e a segunda para produção de yellow cake (composto de urânio usado na produção de energia nuclear), ambas construídas nos arredores da mina.
Os processos resultarão no fluxo de 50 mil carretas saindo e entrando em Santa Quitéria durante a plena operação.
O concentrado de urânio deve ser transportado para o Porto do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, e embarcado em contêineres e navios específicos para o exterior, onde será enriquecido, e volta direto para o Rio de Janeiro, onde é usado como combustível nas usinas nucleares.
Fonte: Diário do Nordeste