Entre as principais discussões da COP26 está o papel da energia nuclear no processo de redução de emissões de gases do efeito estufa. O Brasil, em especial, ganhou holofotes com o anúncio recente de que o próximo Plano Decenal de Energia (PNE 2031) apontará para a construção de uma nova usina nuclear no país. O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque (foto), participou do painel “Nuclear Innovation for a Net Zero World” – evento paralelo à COP26 organizado pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA). Durante o encontro, o ministro reforçou os planos do país para a nuclear e destacou a importância dessa fonte no cumprimento de metas climáticas e ambientais.
“Nós consideramos que a energia nuclear foi, é e será essencial e fundamental para a transição energética. A fonte nuclear continuará sendo essencial não apenas para o nosso país, mas para todo o mundo, contribuindo para a descarbonização e a segurança energética. O mundo está enfrentando agora uma série de desafios no suprimento de energia. E a fonte nuclear tem um papel essencial nesse cenário”, declarou Albuquerque. O ministro reforçou também que o próximo PDE 2031, que trará a indicação de uma nova usina nuclear, será lançado no mês de fevereiro.
O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, parabenizou Albuquerque e o Brasil pela escolha de expandir a capacidade geração nuclear. “As pessoas estão abordando a questão da contribuição da energia nuclear para as mudanças climáticas de uma perspectiva mais objetiva, com uma disposição muito melhor. Todos nós sabemos que sem a contribuição atual da energia nuclear, os números, as estatísticas, os gráficos seriam muito piores do que são. A voz do nuclear tinha que ser ouvida, está sendo ouvida e continuará a ser ouvida”, disse Grossi.
Atualmente, segundo a AIEA, 32 países operam usinas nucleares, que fornecem 10% da eletricidade mundial e mais de um quarto de toda a eletricidade de baixo carbono. No entanto, a capacidade de geração de energia nuclear precisará pelo menos dobrar nas próximas três décadas se o mundo quiser limitar o aumento médio da temperatura global a bem abaixo de 2 graus Celsius, conforme acertado no Acordo de Paris. Para alcançar essa meta chegar lá, a Agência Internacional de Energia (AIE) estima que a energia nuclear precisará se expandir significativamente além de seus mercados tradicionais no mundo desenvolvido para incluir os países em desenvolvimento da África, América Latina e Ásia.
Enquanto isso, a secretária de Energia dos Estados Unidos, Jennifer Granholm, que também participou do encontro, afirmou que o país está “empenhado na energia nuclear” como parte de suas ambições de alcançar eletricidade 100% limpa até 2035. Ela disse que os EUA buscariam um “amplo guarda-chuva de tecnologia“, incluindo todas as fontes de baixo carbono e energia nuclear teria de desempenhar um papel importante, uma vez que já fornece 20% da eletricidade dos EUA e mais da metade da eletricidade limpa do país. Granholm finalizou dizendo que os Estados Unidos concentrariam seus investimentos na operação de longo prazo dos reatores existentes, bem como em tecnologias emergentes, como pequenos reatores modulares avançados, que têm o potencial de fornecer uma transição para comunidades que atualmente dependem de usinas fósseis.
No início deste ano, a UNECE divulgou um relatório que chamou a energia nuclear de “uma ferramenta indispensável” para cumprir a Agenda 2030 sobre o desenvolvimento sustentável. A secretária executiva da UNECE, Olga Algayerova, disse que caberia a cada país adicionar ou não a energia nuclear à sua matriz energética. “A UNECE tem 56 estados membros e temos trabalhado em estreita colaboração com eles e elaborado em detalhes como eles podem alcançar este mundo líquido zero, considerando seus recursos naturais muito diferentes e caminhos diferentes”, disse ela. “Com base em uma análise muito detalhada e também em fatos científicos, chega-se a uma conclusão: se vamos excluir a energia nuclear, não atingiremos as metas do Acordo de Paris e não cumpriremos a Agenda 2030”, declarou.