Tratamento contra o câncer retomado, mas sem garantias de continuidade

Hospitais de Porto Alegre que tiveram o atendimento de pacientes com câncer prejudicado pela falta de radiofármacos e radioisótopos retomaram os procedimentos nesta semana. As instituições de saúde receberam novas remessas o insumo, após o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN) suspender a produção dos medicamentos por falta de verba.

Paciente submetido a procedimento contra o câncer em hospital de Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV

Instituto do Cérebro (InsCer), da PUCRS, recebeu os insumos na segunda-feira (4). Conforme o hospital, a capacidade de atendimento foi retomada e estão garantidos os procedimentos marcados até 18 de outubro.

“A partir dessa data, caso não haja reabastecimento, será necessário um novo esquema de ajustes e reagendamentos”, diz o InsCer em nota.

Quando da falta dos insumos, o médico Diego Pianta estimou que de 65 a 70 pacientes ficariam prejudicados. Segundo o especialista, a medicina nuclear depende dos insumos produzidos pelo IPEN.

“Se a gente não tem o tecnécio, a gente para a medicina nuclear no Brasil. Tudo depende de tecnécio”, afirmou na ocasião.

Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), vinculado à UFRGS, diz ter recebido o gerador de tecnécio nesta semana. Com isso, os exames já voltaram a acontecer, com o reagendamento dos pacientes.

Por outro lado, o iodo, utilizado para tratamento de algumas doenças da tireoide, deve chegar na próxima semana. Só assim a unidade deve retomar o tratamento dos pacientes com câncer.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html

O Grupo Hospitalar Conceição (GHC) e o Hospital Santa Rita, da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, já haviam afirmado que não tinham maiores problemas envolvendo os isótopos, bem como a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde do RS (FEHOSUL).

Hospital de Clínicas de Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV

Hospital de Clínicas de Porto Alegre — Foto: Reprodução/RBS TV

Falta de recursos

O Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (IPEN), órgão do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCTI) do governo federal, anunciou a suspensão da produção de produtos radiofármacos e radioisótopos em 14 de setembro. A interrupção começou no dia 20 de setembro.

O órgão afirmou que sofreu um grande corte no orçamento federal em 2021 e que precisava de R$ 89,7 milhões para continuar a produção dos insumos até o fim de dezembro deste ano. O MCTI chegou a liberar R$ 19 milhões para o IPEN, contudo, a verba corresponde apenas a 21% do necessário. A pasta afirma que o ingresso de recursos depende de aprovação no Congresso.

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, o Ipen — Foto: Reprodução/TV Globo

Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, o Ipen — Foto: Reprodução/TV Globo

Radiofármacos e radioisótopos

Os insumos como tecnécio e iodo são utilizados no diagnóstico e no tratamento de câncer, mas também em pacientes com outras doenças.

O exame de cintilografia, por exemplo, é uma técnica de diagnóstico por imagem feita com tecnécio em pacientes com problemas cardíacos, renais e pulmonares, inclusive embolias provocadas pela Covid-19.

Não é possível armazenar o isótopo em razão de sua meia-vida, que é o tempo necessário para que metade dos átomos de um isótopo radioativo se desintegre.

Fonte: G1