Mais uma crise, e eficiência energética segue atrasada no Brasil

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Diálogos da Transição

epbr.com.br | 07/07/21
Apresentada por


Editada por Nayara Machado
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Em 2030, 5% do consumo energético brasileiro deve ser abatido por eficiência energética, segundo cálculos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Já o consumo de eletricidade pode ter uma redução de 4% a partir da eficiência elétrica, com os setores industrial e de serviços representando 73% dessa economia.

O abatimento de consumo calculado pela EPE chega a 32 TWh em 2030.

Além de reduzir a necessidade de expansão da oferta de energia e o custo para os consumidores, a melhoria na eficiência energética também traz ganhos ambientais com redução nas emissões de gases de efeito estufa.

A grande questão é como chegar lá.

Kamyla Borges, coordenadora da Iniciativa de Eficiência Energética do Instituto Clima e Sociedade, alerta que o Brasil está atrasado no tema.

Em entrevista à epbr, ela compara o país a outras economias emergentes, como China e Índia, que têm investido “pesadamente” em políticas de eficiência energética nas últimas décadas.

“O Brasil praticamente ficou estável nas últimas décadas. Não houve uma curva de redução da intensidade energética relevante ao longo dos anos, apesar da grande mobilização para modernização tecnológica”, diz.

Para mudar essa curva, ela cita medidas emergenciais que já poderiam ser aplicadas no contexto da crise energética, como a adoção pelos consumidores da tarifa branca – modalidade tarifária onde o valor da tarifa de energia varia de acordo com o horário do seu consumo.

“Olhando o consumidor comum, a gente tem a possibilidade da tarifa branca, que poucos consumidores conhecem, mas, se for melhor disseminada, ela pode vir a dar algum resultado com baixo custo para o consumidor”.

E critica a estratégia de racionamento voluntário do governo:

“O trabalhador usa o metrô às seis da tarde. Quando chega em casa, tudo que ele quer é tomar um banho. Não é uma questão de conforto. É uma questão de saúde. Ele acabou de pegar o metrô lotado no meio de uma pandemia. Como dizer que ele não pode, ou que o banho quente tem que durar cinco minutos?”.

Para Kamyla, existem outras soluções: leilão de eficiência energética, inclusão da eficiência nos leilões de potência programados, e instrumentos de resposta e demanda para reduzir a curva de pico, principalmente na indústria.

Já em termos de medidas estruturantes, de resultados de médio e longo prazo, ela considera fundamental a rediscussão da estrutura do setor elétrico, e vê com preocupação a forma fragmentada como as políticas para o setor estão sendo discutidas pelo governo e Congresso Nacional.

“Primeiro veio a MP da Eletrobras, agora a MP da Crise Energética, antes delas, no ápice da covid-19, a MP de socorro às distribuidoras. Cada uma delas mexeu com coisas estruturantes do setor elétrico, mas em blocos”.

Ela analisa que é preciso reformular o PL 414/2021 (antigo PLS 232/2016) pela perspectiva da eficiência energética.

“No PL original, o PLS 232/2016, uma das coisas centrais era a separação do fio energia, que exigiria uma reconfiguração do papel da distribuidora. E isso mexe na eficiência energética porque hoje, na forma como a distribuidora é remunerada, ela não tem interesse em eficiência. Ela é remunerada pela energia vendida”.

Segundo a especialista, modificar essa regulação permitiria que a eficiência deixasse de ser um custo, para se tornar um negócio.

Etiquetagem de geladeiras

Com um programa de etiquetagem mais robusto para os refrigeradores vendidos no Brasil, os consumidores poderiam economizar 1,5 MW de energia no acumulado até 2030, calcula Kamyla.

“Parece uma coisa pequena, mas no mundo da eficiência a gente está falando de um dedão do pé. Se ele já traz essa economia, imagine uma mudança estrutural”.

Ela lembra que mais de 98% da população brasileira tem geladeira, e que as tecnologias disponíveis hoje no mercado datam dos anos 1980-1990.

Um levantamento do Instituto Escolhas indica que 130 TWh de eletricidade poderia ser economizado nesta próxima década somente com a mudança para geladeiras mais eficientes.

O suficiente para abastecer 98% das residências brasileiras por ano.

A economia na conta de luz poderia chegar a R$ 360 por consumidor a cada ano.


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Eficiência também precisa acelerar no mundo

Segundo a Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), desde 2015, as melhorias globais em eficiência energética, medidas pela intensidade de energia primária, têm diminuído e a crise causada pela covid-19 adicionou um nível extra de estresse.

“Em resultado da crise e da continuação dos baixos preços da energia, prevê-se que a intensidade energética melhore apenas 0,8% em 2020, cerca de metade das taxas corrigidas pelo clima, para 2019 (1,6%) e 2018 (1,5%)”, diz a IEA em relatório publicado no final do ano passado.

A agência alerta que os números estão bem abaixo do nível necessário para atingir as metas globais de clima e sustentabilidade.

“É especialmente preocupante porque a eficiência energética proporciona mais de 40% da redução nas emissões de gases de efeito estufa relacionados à energia nos próximos 20 anos no Cenário de Desenvolvimento Sustentável da IEA”, destaca.

A projeção é que investimentos em novos edifícios, equipamentos e veículos com eficiência energética apresentem redução em 2020, impactados pela queda no crescimento econômico e a incerteza de renda.


Curtas

Hub de hidrogênio no Ceará. Com investimento de US$ 6 bilhões, a Fortescue Future Industries (FFI) vai construir uma usina de hidrogênio verde (H2V) no Ceará. A FFI assinou um memorando entendimento com o governo do estado nesta quarta (7). epbr

…Ontem (6), a multinacional Qair Brasil também assinou um memorando de entendimento com o Governo do Ceará para produção de hidrogênio verde. A empresa vai usar energia elétrica gerada no Complexo Eólico Marítimo Dragão do Mar. O investimento previsto é de US$ 6,95 bilhões. epbr

Programa de hidrogênio. Viabilidade econômica e mão de obra especializada são as principais barreiras ao desenvolvimento do hidrogênio verde no Brasil, de acordo com pesquisa do Ministério de Minas e Energia. O MME realizou, nesta segunda-feira (5), reunião com agentes do setor privado atuantes no setor. MME

RenovaBio. O MME também abriu consulta pública sobre as metas anuais de redução de emissões de gases efeito estufa para a comercialização de combustíveis no período 2022-2031. A consulta fica aberta até 06 de agosto. MME

Transição justa. É cada vez mais evidente que precisamos acelerar a transição energética, mas é também crucial que as empresas incorporem incessantemente aspectos ESG em suas culturas organizacionais, escreve Deyvid Bacelar, coordenador geral da Federação Única dos Petroleiros (FUP) em artigo. Vale a leitura.

A União Europeia implementou oficialmente nesta segunda (5) um código de conduta para aumentar práticas sustentáveis na indústria de alimentos, varejistas e serviços de restaurantes e hotelaria. Objetivo é simplificar a escolha do consumidor por alimentos mais saudáveis. Valor

Em meio a ondas de calor no verão do hemisfério norte, a região da Lapônia registrou as temperaturas mais altas em pouco mais de cem anos. Segundo dados do Instituto de Meteorologia da Finlândia, a estação meteorológica da reserva natural de Kevo registrou 33,6ºC na segunda (5), a maior marca na região desde 1914. BBC


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