Financiamento da transição demanda mercado de carbono

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Diálogos da Transição

epbr.com.br | 30/06/21
Apresentada por


Editada por Nayara Machado
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Alcançar as metas do Acordo de Paris e limitar o aumento da temperatura do planeta bem abaixo dos 2ºC é um desafio que vai exigir grandes transformações no setor de energia.

Para Celso Fiori, gerente sênior de Advocacy da bp, a indústria já tem a resposta do que pode ser feito — melhorar a eficiência de processos, usar mais energia de baixo carbono, investir em preservação e restauração ambiental e remover carbono da atmosfera com as tecnologias de captura, armazenamento e uso de carbono (CCUS).

Mas a grande questão é como financiar.

“Uma questão é como isso vai ser financiado. Isso tudo tem um custo e não é baixo. Existem várias formas de financiar, mas tem uma em particular que, sem dúvida, é disruptiva: a precificação do carbono”.

Celso Fiori participou nesta quarta (30) do painel Soluções para abater e deixar de emitir carbono, parte da programação da série de webinars Diálogos da Transição promovida pela epbr.

Segundo o executivo, cumprir o compromisso de Paris vai depender da implementação de mecanismos de precificação de carbono “estáveis, confiáveis, de longo prazo, e que o recurso chegue no seu propósito fim”.

Dentre as diversas formas de precificação de carbono, o executivo destaca a estratégia de soluções baseadas na natureza, que faz parte do plano de descarbonização da companhia.

A discussão sobre esses mecanismos de precificação do carbono será o ponto central da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), marcada para novembro em Glasgow, na Escócia.

Natascha Trennepohl, advogada e sócia do escritório Trennepohl Advogados, explica que as expectativas são altas para a regulamentação do artigo 6° do Acordo de Paris no encontro.

“As expectativas para regulamentação do artigo 6º são altas porque ele traz diferenças nos mecanismos.

Existem mecanismos que vão ser negociações entre governos, créditos que poderiam ser utilizados para as NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas).

Há também um mecanismo de créditos que poderão ser usados entre empresas”.

De acordo com Natascha, um ponto que tem exigido maior discussão diplomática são os ajustes correspondentes, isto é, impedir a utilização do crédito no país que gerou e no país que comprou.

“É preciso ter uma forma de ajuste para não ter uma dupla contagem”, explica.

Brasil deve ter maior fôlego com mercado voluntário

Para Natascha, as exigências para descarbonização da economia são muito mais de mercado internacional do que regulatórias.

“Eu acho que a gente vai chegar lá, na exigência regulatória, mas o mercado tem sido bem mais exigente”.

A advogada conta que desde 2009 há uma expectativa de que o mercado de carbono engrene no Brasil e o desenvolvimento da iniciativa voluntária nos últimos dois anos trouxe um novo fôlego – mas um mercado regulado de carbono ainda deve demorar a acontecer no país.

“A gente tem visto, de uns dois anos para cá, um fôlego muito maior do mercado e da iniciativa voluntária. O mercado voluntário vem crescendo e atropelando os mercados regulados”, diz.

Ela vê o Brasil desenvolvendo um mercado voluntário inicial como uma forma de aprendizado.

Mais: Mercado de carbono está maduro e Brasil tem condições para neutralizar emissões até 2050, diz presidente do CEBDS


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RenovaBio e propostas para mercado regulado

No Brasil, o RenovaBio criou o primeiro mercado regulado de créditos de carbono.

Voltado para o setor de combustíveis, o programa estabelece metas de redução de emissões de CO2 para distribuidores de combustíveis, que precisam adquirir créditos de descarbonização (CBIO) na B3.

Esses créditos são emitidos por produtores de biocombustíveis, a partir de uma análise do ciclo de vida da produção.

Cada CBIO equivale a uma tonelada de carbono que deixou de ser emitida. O preço médio do CBIO negociado até 22 de junho estava em R$ 38,43.

No governo federal, com a saída de Ricardo Salles, Joaquim Leite assumiu o comando do Ministério do Meio Ambiente em meio a uma expectativa do mercado de impulso na agenda de negócios florestais.

Com uma ligação histórica com o agronegócio, Joaquim está no MMA desde julho de 2019 e ocupava o cargo de Secretário da Amazônia e Serviços Ambientais.

É o responsável por tocar programas como o de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) do Floresta+, e as novas concessões de Florestas Nacionais localizadas na Amazônia.

O governo Bolsonaro fracassou nas iniciativas de conter a degradação florestal, com demonstrações de que nem sequer está disposto a manter a estrutura de fiscalização do Ibama.

Isso faz com que ambientalistas tenham ressalvas com o novo comando do ministério, já que a política, no fim das contas, é a do presidente Bolsonaro.

Joaquim Leite, contudo, foi um nome bem recebido pelo mercado. E aí, fala-se tanto do agronegócio exportador, quanto do mercado de energia. Sua proximidade com a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, é vista como uma oportunidade de maior alinhamento entre as pastas…

…E a experiência do novo ministro em COPs passadas dá alguma esperança de melhora na interface entre as áreas do governo, que serão responsáveis por defender a proposta brasileira na conferência de Glasgow, em novembro.

Os dois principais programas que estavam sob responsabilidade de Joaquim – o pagamento por serviços ambientais e as concessões florestais, têm apoio de ambientalistas e empresários.

No legislativo, projetos tentam ampliar o mercado regulado de carbono.

O mais recente é do senador Weverton (PDT/MA), que pretende criar um marco regulatório para ativos financeiros associados à mitigação das emissões de gases de efeito estufa.

A proposta do senador maranhense é a segunda tentativa de regulação para o mercado offset no legislativo este ano.

A primeira, do deputado Marcelo Ramos (PL/AM), institui o Mercado Brasileiro de Redução de Emissões (MBRE).

O PL chegou na semana passada à Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados, onde será relatada pela deputada Carla Zambelli (PSL/SP), presidida pela própria deputada.

A parlamentar tem um discurso próximo ao do ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

Zambelli assumiu a Comissão do Meio Ambiente da Câmara afirmando que o país é exemplo de sustentabilidade para o mundo – apesar de desmatamento recorde, Fundo Amazônia paralisado, militarização de órgãos ambientais entre outros pontos de alerta na gestão Bolsonaro.


Curtas

Cinco países asiáticos são responsáveis ​​por 80% das novas usinas a carvão planejadas no mundo e 75% da capacidade de carvão existente. Neles, 92% das unidades de carvão planejadas serão antieconômicas, mesmo com os negócios normais, e até US$ 150 bilhões podem ser desperdiçados. Conclusão faz parte de relatório do Carbon Tracker lançado esta semana.

A Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) afirma que cerca de metade do potencial hidrelétrico economicamente viável do mundo está inexplorado. Em relatório, agência considera que é preciso desbloquear obstáculos da fonte de produção de eletricidade cujo crescimento está diminuindo. Agência Brasil

A geração distribuída solar atingiu marca histórica de 6 gigawatts (GW) de potência instalada no Brasil. Valor equivale a mais de um terço de toda a capacidade da usina hidrelétrica de Itaipu, segundo mapeamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR).

A fabricante de celulose Suzano concluiu na segunda (28) a captação de US$ 1 bilhão em Sustainability-linked bonds (SLB) atrelados a metas de diversidade de gênero e uso da água. A companhia se comprometeu a ter 30% dos cargos de liderança ocupados por mulheres até 2025. epbr

ANP lançou o Painel Dinâmico da Plataforma CBIO, com informações sobre geração de lastro necessário para emissão de Créditos de Descarbonização do RenovaBio. Também apresenta dados de escrituração e retirada de circulação de CBIOs, além das negociações publicadas no site da B3. ANP


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