Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O futuro da energia nuclear no Brasil e seu papel para a segurança no fornecimento de eletricidade no país estarão no centro das discussões da nova edição da conferência Nuclear Trade & Technology Exchange (NT2E). A segunda edição do evento, organizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan), acontecerá em um momento crucial do país, que tem vivido dias de expectativa e preocupação por conta dos baixos níveis dos reservatórios das hidrelétricas. “Se tivéssemos com novas centrais nucleares operando, poderíamos estar armazenando água durante o período seco”, lembra o presidente da Abdan, Celso Cunha (foto). “A nuclear está no centro dessa discussão. Chova ou faça sol, a usina nuclear sempre funcionará. Outra vantagem é que ela pode ser colocada no centro de carga”, acrescentou. Nessa entrevista com o Petronotícias, Cunha contou as primeiras novidades da edição de 2021 da NT2E, que terá palestras de nomes de peso do setor nuclear brasileiro e internacional. A abertura da conferência, por exemplo, terá a participação do Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e do diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi. Entre os assuntos que farão parte da programação, estão o futuro da energia nuclear à luz da COP-26, o papel que as nucleares jogam no sistema elétrico brasileiro e a escolha dos novos sítios para as centrais nucleares. A NT2E será totalmente virtual e acontecerá entre os dias 27 e 29 de julho. As inscrições e outras informações do evento podem ser feitas no site oficial.
Quais serão as novidades dessa nova edição da NT2E?
No ano passado tivemos um evento conjunto, com o lançamento da NT2E e, paralelamente, a World Nuclear University (WNU). Em 2021, vamos separar esses dois eventos. Agora em julho realizaremos a NT2E e, no próximo ano, realizaremos a WNU – que será muito mais voltada aos jovens e estudantes.
A NT2E, por sua vez, será focada em geração de negócios e discussões sobre todas as áreas do segmento da tecnologia nuclear. Passaremos pela geração nucleoelétrica, medicina nuclear, radiação, regulação, fiscalização, entre outros tópicos. Serão mais de 70 palestrantes, como diretores, CEOs e presidentes de empresas nacionais e internacionais, todos de alto nível. Teremos ainda a participação de representantes do governo brasileiro durante o evento. A NT2E terá mais de 30 painéis ao longo de seus três dias de realização.
Poderia nos apontar alguns destaques da abertura do evento desse ano?
Teremos algumas novidades. Vamos sempre abrir os dias de evento com debates diretos de um estúdio, com a participação de quatro ou cinco entrevistados simultaneamente. Haverá um jornalista âncora e um debatedor técnico com esses entrevistados, em estilo similar aos programas jornalísticos de televisão.
A abertura do evento, na manhã do dia 27 de julho, terá as presenças do Ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, e do diretor da Agência Internacional de Energia Atômica, Rafael Grossi. Em seguida, teremos duas palestras. A primeira delas será com o vice-diretor geral da AIEA, Mikhail Chudakov, que falará sobre o futuro da energia nuclear à luz da COP-26. Logo após, será a vez do presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, que abordará o futuro da energia nuclear além da eletricidade.
Na parte da tarde, continuaremos com palestras de pessoas de muito peso do setor, como por exemplo a nova presidente da World Nuclear Association (WNA), Sama Bilbao & Léon. Já o Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI) falará sobre os sucessos e desafios da Política Nuclear Brasileira.
O senhor também poderia antecipar um pouco da programação dos demais dias de evento?
No dia 28, o tema será mercado de energia. Vamos falar sobre o novo modelo do mercado de energia que está sendo discutido e como isso afetará o mercado de energia nuclear. Vamos abordar também o Plano Nacional de Energia (PNE-2050), detalhando o que está sendo construído nesse plano. O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) falará ainda sobre a operação do sistema e o papel que as nucleares jogam no sistema elétrico brasileiro.
No dia 29, último dia de evento, abriremos com um debate sobre a escolha dos novos sítios para as novas centrais nucleares. O PNE 2050 aponta para a necessidade de o Brasil escolher os novos sítios. Mas para essa escolha ser efetivada, existem questões que precisam ser levadas em conta.
Contaremos com a participação de representantes do EPRI [Electric Power Research Institute, organização americana sem fins lucrativos que realiza pesquisas e desenvolvimento relacionados à geração, entrega e uso de eletricidade]. Como é do conhecimento do mercado, foram feitos estudos em 2009 sobre novos sítios nucleares que foram baseados em normativas e direcionadores montados pelo EPRI. Só que desde então muita coisa evoluiu. É preciso revisitar essas normas.
A NT2E acontecerá em um momento importante do país, quando o Brasil passa por uma crise hídrica que reduziu os índices de nossos reservatórios hidrelétricos. Gostaria que falasse um pouco do papel da fonte nuclear para a segurança energética do país.
A nuclear está no centro dessa discussão. Chova ou faça sol, a usina nuclear sempre funcionará. Outra vantagem é que ela pode ser colocada no centro de carga. Podemos observar que os reservatórios de Minas Gerais, que são considerados como uma grande “caixa d’água”, estão muito baixos. Se tivéssemos com novas centrais nucleares operando, poderíamos estar armazenando água durante o período seco.
Nesse momento, o mundo discute a sobrevivência do planeta e a descarbonização da matriz energética global. Todo o mundo está indo nessa direção e não podemos incentivar fontes que continuam a utilizar hidrocarbonetos. Está na hora de fazermos uma migração para uma fonte limpa, segura e que possa trazer toda uma resistência ao nosso sistema. Esse é um debate importante.