Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
A pergunta de 1 milhão de dólares da vez é sobre quando o mundo terá em mãos a tão aguardada vacina contra o coronavírus (Sars-CoV-2) causador da Covid-19. Mas enquanto o planeta está na corrida para desenvolver uma imunização eficaz que dê fim a esta terrível pandemia, outros cientistas e entidades estão já pensando no longo prazo, se preparando no enfrentamento de possíveis novos surtos no futuro. Foi o que disse o diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Rafael Grossi, durante um encontro virtual nesta semana promovido pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan). O argentino, que assumiu o cargo de liderança na agência no final do ano passado, afirmou ainda que o Brasil será um dos países envolvidos no projeto.
“Chegamos à conclusão de que está muito claro que esta pandemia não será a última. Estamos diante de um padrão muito claro de situações recorrentes: SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave), MERS (Síndrome Respiratória do Oriente Médio), Ebola, Zika, Chikungunya, Dengue e Covid-19”, afirmou Grossi. As palavras do argentino, apesar de preocupantes, encontram respaldo na Ciência. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e outros epidemiologistas espalhados pelo mundo afirmam que a Covid-19 não será a última pandemia que a humanidade enfrentará. Pensar desde agora na próxima crise sanitária mundial não é questão de esperar pelo pior, mas sim de estar pronto para quando a crise bater à porta.
“Nossa agência tem um papel e um mandato histórico [no monitoramento e detecção] das doenças zoonóticas. Decidimos potencializar [esse papel] através de uma iniciativa que se chama Zoonotic Disease Integrated Action (ZODIAC)”, disse o diretor-geral da AIEA. O objetivo do projeto é ajudar os países no uso de técnicas nucleares para a detecção rápida de patógenos que causam Doenças Animais Transfronteiriças, incluindo aquelas que se propagam aos humanos. Essas enfermidades matam cerca de 2,7 milhões de pessoas todos os anos. Assim, espera-se que a iniciativa ajude a preparar o mundo para futuros surtos.
Grossi explicou durante o evento que o projeto ZODIAC vai integrar todas as capacidades que a AIEA possui, junto com seus parceiros internacionais, como a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e a OMS. “É um esforço sem precedentes para alcançar a rede internacional de laboratórios nesse faro de vigilância zoonótica que, talvez, faltou no começo da crise da Covid-19”, acrescentou.
A AIEA está fornecendo atualmente assistência de emergência a cerca de 120 países no uso de testes para detectar COVID-19 rapidamente. Como se sabe, os principais e melhores exames para diagnóstico do coronavírus são os chamados RT-PCR, que têm origem na tecnologia nuclear.
Grossi também mencionou como seria a participação dos laboratórios do Brasil dentro do projeto ZODIAC. “O que é interessante para países como o Brasil e outros na América Latina é que através dessa iniciativa ZODIAC vamos trabalhar de forma muito mais intensa com os laboratórios mais importantes destes países. Temos muito contatos com laboratórios em São Paulo e outros laboratórios de ponta no Brasil, de modo que haverá uma cooperação maior entre a agência e o setor tecnológico de biossegurança nestes países latinos americanos e, certamente, no Brasil também”, explicou.
O dirigente da AIEA também afirmou que a agência continuará trabalhando para que a parceria positiva com o Brasil se torne ainda mais forte e agradeceu ao país por apoiar as atividades da agência na promoção do uso seguro e pacífico da energia atômica.
Este foi o sétimo webinar realizado pela Abdan em parceria com o Sebrae-RJ dentro de uma série de encontros virtuais em preparação para a Nuclear Trade and Technology Exchange (NT2E) – evento previsto para a segunda quinzena de julho de 2021. O presidente da Abdan, Celso Cunha (foto à direita), que fez a mediação do webinar, também convidou o diretor Rafael Grossi para participar da abertura do NT2E.
O próximo webinar da Abdan será na próxima semana, no dia 17, e vai debater o fomento à cadeia produtiva, com a participação do presidente da Apex-Brasil, Sergio Barbosa, e do diretor-superintendente do Sebrae-RJ, Antônio Alvarenga.