Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –
O Brasil tem em suas veias o agronegócio pulsando forte, mas poderia desempenhar um papel de ainda mais destaque na exportação de determinados produtos agrícolas. Um dos caminhos apontados para alcançar este objetivo, segundo especialistas do setor, é ampliar a irradiação de alimentos. A ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina, afirmou que a pasta quer levar este tema adiante e promete mais “agilidade” no assunto. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior produtor de frutas do mundo, mas ocupa apenas a 23ª posição como exportador desses alimentos. O uso da irradiação, na avaliação de pessoas do mercado e do governo, pode ajudar o país a galgar uma posição de mais relevância no cenário internacional.
“É um assunto que eu gosto, é muito interessante e precisa ser levando para frente. Vamos tratar disso com bastante agilidade. Eu quero dizer que nós aqui [do ministério] estamos alinhados com vocês para fazer esse caminho ser mais curto”, declarou Tereza Cristina, durante webinar organizado pela Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (ABDAN) em parceria com o Sebrae.
O evento foi realizado ontem (28) e reuniu cerca de 120 pessoas ligadas aos segmentos nuclear e agrícola. Um dos palestrantes foi o Secretário Executivo do Ministério da Agricultura, Marcos Montes, que seguiu o mesmo tom adotado pela líder da pasta: “A participação da ministra no seminário demonstra o interesse que temos em avançar fortemente nessa ação importante. Esse momento que estamos vivendo pode ser especial para fazer que isto [a irradiação] seja instrumento importante para o nosso país e para o mundo”, declarou o secretário.
Cordeiro também defendeu que é preciso fazer um esforço de conscientização da população brasileira e desmistificar o tema da irradiação de alimentos. “Precisamos fazer um trabalho de mídia bem feito para que possamos mostrar à sociedade brasileira que a irradiação tem benefícios, porque torna o alimento mais saudável e duradouro”.
O debate foi mediado pelo Assessor no Departamento de Coordenação do Sistema de Proteção ao Programa Nuclear Brasileiro (Sipron) do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Tiago Rusin. Ele disse que o tema da irradiação é sendo avaliado pelo chamado Grupo de Trabalho 7 (GT 7), que visa dinamizar a aplicação da tecnologia nuclear na agropecuária. Segundo Russin, as potencialidades da tecnologia em estudo são: conservação e aumento da vida útil dos alimentos, controle de pragas e doenças, segurança sanitária e fitossanitária, ganhos para a saúde pública e abertura de mercados externos.
“Fizemos no âmbito do GT 7 um projeto piloto de irradiação de mangas, fruto de uma parceria entre a Abrafrutas, IPEN e outras entidades. Verificamos que ao final do 35º dia de armazenamento, a fruta sem irradiação estava totalmente degradada, enquanto que as irradiadas estavam próprias para consumo. Conseguimos prolongar a vida de prateleira dessas mangas”, explicou.
Aumentar o tempo de vida dos alimentos é fundamental para o Brasil poder expandir suas exportações, conforme destacou o presidente da Abrafrutas, Guilherme Cruz de Souza Coelho. “Essa questão do tempo de prateleira é fundamental. Cada vez mais estamos ousando, mandando frutas para os Emirados Árabes. Agora estamos indo para China. Estamos cada vez mais colocando frutas em lugares mais distantes e precisamos de cada vez mais tempo de prateleira”. A associação foi criada há seis anos e conta com cerca de 80 associados. Representa em torno de 85% da exportação de frutas frescas do Brasil.
Já o diretor do Departamento de Coordenação do Sistema de Proteção do Programa Nuclear Brasileiro, Márcio Gonçalves Taveira, reconheceu que o Brasil está na dívida com relação à irradiação de alimentos. “Nós temos um potencial gigantesco de produção e temos que fazer com que nossos produtos alcancem os mercados. Eu não tenho dúvida que, em pouco tempo, nós estaremos comemorando o primeiro Irradiador Multipropósito Brasileiro (IMB), que foi objeto de estudo do Grupo de Trabalho 7”, projetou.
Este foi o quinto webinar da série Nuclear Trade and Technology Exchange (NT2E), em preparação da NT2E – evento previsto para abril de 2021. O presidente da Abdan, Celso Cunha, agradeceu a presença de todos ao final do evento e já antecipou que o próximo seminário vai abordar novamente o tema da medicina nuclear. No início de julho, a associação organizou um primeiro webinar para abordar esse mercado e tratou da questão da quebra de monopólio da União na produção de radiofármacos.