ABDAN AVALIA QUE MODELAGEM ESCOLHIDA PARA ANGRA 3 DARÁ MAIS AGILIDADE À RETOMADA DA OBRA

Por Davi de Souza (davi@petronoticias.com.br) –

CELSO CUNHaO mercado repercute o anúncio da modelagem escolhida pelo governo para concluir as obras da usina nuclear de Angra 3. Conforme noticiamos, ficou decidido que será contratada uma empresa epecista para finalizar a planta, além da separação entre construção e financiamento – ou seja estes dois riscos não ficarão sobre um mesmo agente. Para comentar a escolha, convidamos o presidente da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan), Celso Cunha, que avaliou positivamente o modelo. Para ele, como o processo agora ficará centralizado no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), a previsão é que os próximos passos sejam dados de forma mais célere, permitindo a retomada das obras. “O assunto agora ficará centralizado no Ministério de Minas e Energia com algumas relações de autorizações que possam ocorrer com o Ministério da Economia. Então, o processo deve avançar mais rápido a princípio. Enxergamos isso de uma forma positiva, de forma que o cronograma seja mantido e a obra concluída”, disse o presidente da associação. “Eu acho que a melhor coisa que aconteceu foi a tomada de decisão. Não decidir era a pior que coisa que poderia acontecer. Então, ter escolhido o caminho para retomada foi uma grande vitória. Agora, é hora de trabalhar para fazer este caminho acontecer”, acrescentou.

Como o senhor avaliou o modelo aprovado para continuação das obras de Angra?

É um modelo diferente do que estava sendo discutido, apesar deste indicativo também estar na pauta do PPI e acabou prevalecendo sobre os outros. Não é melhor nem pior. É um modelo onde há a separação do financiamento da linha de execução, com a contratação de um epecista. Ou seja: você vai ao mercado buscar o dinheiro para a obra e faz um processo de contratação.

Eu acho que este é um processo menos demorado a partir do momento em que os recursos serão disponibilizados para a Eletrobrás/Eletronuclear e a empresa epecista que for contratada vai executar a obra.

Quais são as vantagens deste modelo?

Estamos falando de um setor que se caracteriza muito por empresas que quase se confundem com Estados, como a russa Rosatom, a francesa Framatome, a americana Westinghouse e outras. Nada impede que estes mercados se organizem e tragam os recursos para fazer o financiamento, com a posterior contratação de um epecista. Também acho que essa modelagem agiliza um pouco o processo, a partir do momento em que o projeto não retornará mais ao Programa de Parceira de Investimentos (PPI).

Depois das aprovações dentro do CNPE, o projeto vai se transformar em uma questão interna da Eletrobrás, que é uma empresa de capital aberto, com ações na Bolsa de Valores. Então, existem mil detalhismos de se buscar recursos. É uma empresa pujante, que tem um balanço positivo e recursos para investir. Tanto que eles já possuem um projeto de aceleração da linha crítica de execução de Angra 3, onde já havia sido anunciado R$ 1 bilhão para acelerar e manter o cronograma original.

O assunto agora ficará centralizado no Ministério de Minas e Energia com algumas relações de autorizações que possam ocorrer com o Ministério da Economia. Então, o processo deve avançar mais rápido, a princípio. Enxergamos isso de uma forma positiva, de forma que o cronograma seja mantido e a obra concluída.

Eu acho que a melhor coisa que aconteceu foi a tomada de decisão. Não decidir era a pior que coisa que poderia acontecer. Então, ter escolhido o caminho para retomada foi uma grande vitória. Agora, é hora de trabalhar para fazer este caminho acontecer.

Quando anunciou o modelo, o governo disse que a sondagem de mercado indicou que o setor não estava interessado em ser sócio do projeto, mas sim participar como contratado. Qual sua visão a respeito disso?

Eu acho que a questão não é que o mercado não estava disposto. Eu acredito que o mercado sempre procura o menor risco. Então, na modelagem escolhida, o mercado não terá que aportar o capital para a conclusão da obra e o financiamento virá da própria empresa que vai concluir a obra. Isso é uma modelagem diferenciada onde os riscos mudam. Tudo aquilo que tem menos riscos agrada mais ao mercado.

Isto não quer dizer que o mercado não entraria em outro modelo. Mas nesse modelo, você está separando o risco financeiro dos riscos da construção. Para os grandes fornecedores de equipamento e construção de usinas, eles são especializados em construir usinas, fornecer equipamentos e operar plantas. Eles não são bancos, normalmente. Na modelagem anterior, o investidor teria de vir com os recursos. Então, trazia uma componente que era financiar a própria obra. Isso tem riscos e muda a relação de riscos. No modelo anunciado, o risco é menor.

Ainda durante o anúncio do novo modelo, a secretária especial do PPI, Martha Sellier, alegou que o fato na legislação não permitir que investidores privados entrem como sócios majoritários diminuiu um pouco o interesse. Acredita que essa questão pode ser revista no futuro?

Eu acho que teremos de ter algum tipo de modelagem diferente. Estamos aguardando o Plano Nacional de Energia (PNE) 2050, que deve ter um indicativo de até 10 GW de novas usinas, o que representará a construção de cerca de 8 usinas. Estamos falando de recursos que estão entre US$ 40 bilhões e US$ 50 bilhões. Apesar de estarmos falando do horizonte de 30 anos, mas é um volume de recursos muito significativo.

A pergunta é: quem financiará estes projetos? Quando o mercado olhar que terá de financiar e ainda será o acionista minoritário, em uma legislação que tem um perfil muito mais público do que privado, a visão de riscos aumentará.

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