CONSOLIDAÇÃO DE AVANÇOS RECENTES PODEM AJUDAR O BRASIL A SER EXPORTADOR DE COMBUSTÍVEL NUCLEAR NO FUTURO

Marcel-Fortuna-Biato-1-300x230O projeto Perspectivas 2020 desta quinta-feira (12) falará sobre o futuro e as perspectivas para o setor nuclear do Brasil. Para isso, convidou o representante permanente do país junto à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), embaixador Marcel Fortuna Biato. O diplomata destaca que o segmento teve um 2019 de continuidade em seu processo de dinamização, com alguns avanços importantes. Alguns deles são o salto na produção de urânio enriquecido e a destinação de novos recursos para ampliar ainda mais a capacidade nacional de enriquecimento. “A consolidação desses avanços abre caminho para que o Brasil se firme como exportador para o mercado internacional de combustível nuclear, como já vem fazendo em escala incipiente com a Argentina”, destacou. Biato também comenta sobre a expectativa de definição do consórcio que irá terminar a construção de Angra 3. “A conclusão da obra, estimada para 2025, permitirá ao Brasil aumentar significativamente a contribuição nuclear à matriz energética num momento em que o mundo busca soluções energéticas livres de CO2”, concluiu.

Como viu o seu setor no ano de 2019?

Este ano o setor nuclear deu continuidade ao processo de dinamização dos últimos anos. De mais importante é o fato de que, em linha com as diretrizes da política de desenvolvimento do setor estabelecido pelo comitê, constituído em 2018, sob coordenação do GSI, os avanços se dão em todos os âmbitos, de modo coordenado. Como resultado, caminha-se para dar sustentabilidade comercial ao ciclo completo de geração elétrica a partir de energia nuclear. Dois desdobramentos, em particular, merecem registro. De um lado, a inauguração da 8ª. cascata de centrífugas, em Resende. Isto significa que se está gradualmente elevando a capacidade de produção de combustível para atender à demanda de Angra I e II, no momento majoritariamente coberta por importações. De outro lado, a retomada das atividades na mina de Caetité. Depois de cinco anos de interrupção, a INB volta a extrair urânio e, portanto, a gerar a matéria prima para o enriquecimento de combustível em Resende. Graças a esses avanços, este ano o Brasil consolidou-se como exportador de combustível nuclear para a Argentina, o primeiro cliente no exterior.

Por outro lado, deu-se passo decisivo no campo da governança institucional com a formalização da decisão de criar uma agência regulatória autônoma em relação ao braço promocional da CNEN. Espera-se para 2020 sua implementação definitiva, atendendo as melhores práticas internacionais.

Qual é a sua expectativa para 2020?

No ano que vem, a expectativa é dar continuidade a esse processo de habilitação do Brasil a produzir de modo autônomo e comercialmente viável o combustível para nossas usinas. A verdade é que, apesar de sermos um dos três países que detêm tecnologia de enriquecimento própria e importantes jazidas de minério de urânio, somos ainda obrigados, pelas limitações referidas acima, a realizar parte do processo no exterior.  Os recursos da ordem de R$ 20 milhões já foram destinados pelo MME para permitir a inauguração, a partir do ano que vem das cascatas 9 e 10.

Adicionalmente, a INB está ultimando os preparativos para elaborar projeto de saneamento definitivo da mina de urânio desativada em Poços de Caldas, onde persiste problemas de contaminação. Prevê-se a participação da missão da AIEA para ajudar em definir parâmetros de formulação e implementação, também em linha com os melhores procedimentos disponíveis.

A consolidação desses avanços abre caminho para que o Brasil se firme como exportador para o mercado internacional de combustível nuclear, como já vem fazendo em escala incipiente com a Argentina.

Por fim, espera-se a conclusão do processo de definição do consórcio que irá concluir a construção de Angra III. A conclusão da obra, estimada para 2025, junto com as demais medidas já comentadas, permitirá ao Brasil aumentar significativamente a contribuição nuclear à matriz energética, num momento em que o mundo busca soluções energéticas livres de CO2 para conter o aquecimento global.

O que gostaria de sugerir para que seu segmento de negócios fosse mais ativo?

As providências acima são indispensáveis para que o setor possa ser comercialmente viável e, portanto, atraia investimentos privados para crescer de forma sustentável. Além disso, ademais da entrada em vigência de uma agência nuclear regulatória autônoma, é preciso aprofundar o processo de liberalização do setor para aprimorar sua governança e torná-lo, como um todo, mais competitivo. As entidades e associações de classe, caso da ABDAN e da ABEN, têm papel importante nesse esforço de divulgação e conscientização, organizando debates e eventos.  

A AIEA oferece importante plataforma para ampliar os contatos internacionais de toda espécie. No campo técnico, permite ao Brasil aceder às melhores práticas e tecnologias. Do lado comercial, a Conferência Geral, o maior evento do setor no mundo, é realizada todo ano, em setembro, em Viena. Abre oportunidades para divulgar as potencialidades do setor brasileiro, o que motivou a participação, este ano, pela primeira vez em 29 anos, do Ministro das Minas e Energia, Bento de Albuquerque. Espera-se que número crescente de empresas e instituições do setor nuclear brasileiro conheçam e se valham dos serviços da Agência.

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