A MEDICINA NUCLEAR NO BRASIL PODERIA SER MELHOR SEM O MONOPÓLIO ESTATAL E OS ALTOS CUSTOS DA BUROCRACIA

Beatriz_LemeO Perspectivas 2020 abre um espaço especial para tratarmos de um problema que aflige em especial o mercado de medicina nuclear no Brasil. Ouvimos a especialista no assunto, Beatriz Leme (foto), que é economista e executiva chefe de Serviços de Diagnósticos por Imagem. Ela atua no segmento há mais de duas décadas. Atualmente, é membro atuante do grupo de empresas da cadeia de suprimento da Medicina Nuclear. Tem opiniões duras, mas sinceras e ideias que podem alavancar este segmento no Brasil, que tem todas as possibilidades de ser grande e mais efetivo, se não tropeçasse nos entraves da burocracia, que leva ao retrocesso pela estagnação. Houve melhoras, Beatriz reconhece, mas defende uma participação menor do Estado, que detém o monopólio dos radioisótopos, e aponta para a dependência nas importações de matérias-primas, além da lentidão na aprovação de novos radiofármacos. Tudo devido à burocracia e ao alto custo destes processos que afastam investidores privados, tornando o Brasil menos atrativo. Este é um tema mais do que importante. Para muitos, ele é vital.

– Como avalia o seu setor no ano de 2019 ?

A Medicina Nuclear, bem como a produção de radiofármacos, representa uma parte cada vez mais importante do mercado médico global. xsxsxQuando observamos o contexto mundial do mercado de imagens nucleares, os indicadores demonstram um aquecimento do setor. A perspectiva é de crescimento e expansão para os próximos 5 anos de pelo menos 5%, o que equivale a alcançarmos a cifra de US$ 9.255,41 milhões até 2024, conforme indica o Relatório do Mercado de Imagens Nucleares 2019-2024, publicado no início deste ano.

 Poderíamos estar celebrando juntamente com América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico – nações que estão à frente deste movimento econômico, mas, não. Aqui no Brasil, estamos à margem deles. O que vivemos é um cenário de estagnação que beira o retrocesso. Estamos atrasados pelo menos duas décadas em relação ao mundo. Na última década é inegável que houve uma melhora no campo da medicina nuclear, mas, ainda assim, muito aquém de nosso potencial e capacidade, tanto em termos de pesquisa, quanto no campo do diagnóstico e terapêutica, bem como na produção de radiofármacos.

Se temos potencial, o que ainda está nos retendo de seguir essa onda de crescimento mundial no campo da imagem nuclear? Fatores como monopólio estatal da produção de radioisótopos, bem como dependência de exportação de radionuclídeos (matéria prima para produção de wwswssradiofármacos). Há ainda a morosidade na aprovação e registro de novos radiofármacos devido à entraves como burocracias e alto custo destes processos, que tornam o Brasil menos atrativo para a entrada de novos players no mercado, bem como inviabiliza investimentos daquelas empresas já ativas em nosso mercado. Isso sem falar na demanda reprimida que temos de nossos pacientes brasileiros, que poderiam estar se beneficiando da medicina nuclear em seus tratamentos.

 Estas circunstâncias vão na contramão da teoria do livre mercado que se  trata da soberania do consumidor, ou seja,  a demanda ou o consumidor é a força dominante no mercado. E não o contrário. Sem demanda, não haverá vendas ou receita de vendas e lucro. Portanto  quanto maior a demanda, maior o incentivo para os empreendedores entrarem em um mercado e maior a probabilidade de formar um mercado.

– Qual é a sua expectativa para 2020 ?

Espero que no ano de 2020 possamos ativar estratégias que possibilitem retomarmos o nosso processo de crescimento no campo nuclear, também por meio da medicina nuclear. Um dos passos de otimismo e esperança que demos nesse ano de 2019 foi a criação de um braço da Associação Brasileira para Desenvolvimento das Atividades Nucleares (Abdan), que reúne representantes da cadeia de suprimentos da medicina nuclear.

Um grupo que poderá, juntamente aos demais agentes da medicina nuclear, como Sociedade Brasileira de Medicina Nuclear, lutar por uma grgrggrgrtransformação e expansão tecnológica nessa realidade que estamos vivendo. Entre estas ações, prevemos contribuir com a revisão da portaria que hoje regula a aprovação e registro dos radiofármacos no Brasil e a quebra do monopólio estatal.

 – O que gostaria de sugerir para seu segmento de negócios fosse mais ativo ?

É preciso reestruturar para potencializar o crescimento do mercado brasileiro da Medicina Nuclear. Esse inclusive é o tema de um artigo que publiquei recentemente.  Nele levanto aspectos como a necessidade de  regular os mecanismos de precificação de custos do setor; gerar estratégias que possibilitem atrair novos investimentos, enquanto o mercado atual não apresenta condições econômicas e financeiras para assumir este crescimento; e, sobretudo, a quebra do monopólio – que é uma necessidade pungente.

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